Maigret e a cilada

MAIGRET E A CILADA

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance policial “A cilada de Maigret”, de Georges Simenon. Editora Livros do Brasil, Lisboa-Portugal, 1997. Coleção Vampiro, 597. Título original em francês: “Maigret tend un piège” (“copyright” 1955 do autor). Capa: A. Pedro. Tradução: J. Lima da Costa.

 

O Inspetor Maigret, personagem dos mais populares na literatura policial, contrariando o padrão habitual não é um solteirão mas um homem casado, sua esposa aparece nas histórias mas como a sua retaguarda, ou seja, o lar, o descanso, quando é possível descansar.

Nada portanto de solteirão misógeno como Poirot, Nero Wolfe ou Sherlock Holmes, ou namorador como Simon Templar ou James Bond.

Suas histórias são investigações profissionais pacientes, metódicas e sem métodos mágicos ou mirabolantes como em Arsène Lupin.

“A cilada de Maigret” fala de um assassino sexual de mulheres que atacava no bairro parisiense de Montmartre. Reinava medo e pânico entre as mulheres da região e faltava um padrão nas mortes, pois as vítimas eram bem diferentes.

A narrativa de Simenon, sem as baixarias que se tornaram moda, é de dar gosto, a maneira exímia como ele monta um clima, um ambiente. Vejam este pequeno trecho:

“Era o dia 4 de agosto. As janelas estavam abertas mas não era por isso que havia fresco porque elas faziam penetrar um ar quente que parecia emanar do alcatrão amolecido das pedras ardentes, do próprio Sena que se esperava ver deitar fumo como a água numa frigideira.”

Ao contrário da maioria dos detetives de ficção, Maigret não resolve tudo praticamente sozinho: sendo um policial de profissão e não um detetive particular como Nero Wolfe ou amador como Sherlock Holmes, ele comanda uma divisão e vários detetives colaboram nas investigações. Uma agente do corpo feminino também participa e até de forma brilhante, servindo de isca e, atacada, defende-se com um golpe de judô e espanta o agressor. Só não consegue detê-lo, isso terá de ficar com Maigret mesmo.

Aliás Maigret revela até conhecimento de psiquiatria e quando consegue identificar o psicopata assassino chega a reconstituir sua história de trauma familiar até chegar aonde chegou. Uma triste história de miséria moral.

O Inspetor Maigret é um personagem exemplar em sua honestidade e zelo pelo cumprimento do dever.

A Vampiro talvez tenha sido a melhor coleção policial publicada em língua portuguesa, em simpático formato de bolso.

 

Rio de Janeiro, 1º de março de 2022.