Última Parada - Casey McQuiston

August Landry é uma jovem de 23 anos, bissexual, que se muda para Nova York, em busca de um novo começo, numa nova universidade, um novo curso, uma nova vida. Ela passa a dividir um apartamento com outros três jovens queer, o casal Niko e Myla, e o enigmático Wes. Passa a trabalhar na Casa de Panquecas de Billy Panqueca, mesmo sem ter nenhuma experiência. Mas a maior mudança na vida de August quem traz mesmo é Jane, a garota do metrô.

O simples crush que August poderia ter em Jane, aquele cruzar de olhares que vira uma paixão, se torna algo mais que especial quando ela percebe que toda a graça e sensualidade da garota do metrô acompanha um fator inusitado: Jane está presa na linha Q e na verdade viajou no tempo, vinda dos anos 70. Então August decide ajudar Jane a ficar livre e voltar para sua vida de origem.

Isso requer que August ponha em ação uma habilidade que ela preferia ter deixado de lado quando se mudou para NY; a habilidade de investigar e encontrar pessoas. Habilidade essa que ela adquiriu graças à mãe que passou toda uma vida procurando o irmão desaparecido, tendo a filha como parceira na busca. Por isso August quis tanto se afastar e acabou levando sentimentos de solidão e insegurança para sua nova vida.

Jane sempre foi muito livre, muito disposta a romper barreiras e preconceitos, principalmente numa época em que a homofobia era tão recorrente na sociedade estadunidense, onde os homossexuais enfrentavam ainda um sistema jurídico anti-homossexual. Muito descolada, muito aventureira e sempre brilhando e levando seu brilho onde quer que andasse. Ou seja, o completo oposto de August.

Isso, mais do que a questão de Jane precisar voltar para os anos 70, se torna um obstáculo na relação entre as duas, pois August não sabe se os sentimentos amorosos são recíprocos ou se Jane só está vivendo aquele momento assim como viveu tantos outros ao lado de tantas outras garotas. E isso meio que se arrasta por umas boas páginas, com August se pegando com Jane no metrô e tentando não pensar que aquilo é só pela investigação, pra ajudar Jane a se lembrar de sua vida.

Mesmo assim, August se deixa transformar pela energia de Jane, e também dos amigos e companheiros de ap que a introduzem em seu pequeno grande círculo. Esses e alguns outros personagens coadjuvantes são hilariamente construídos, trazendo um toque forte de cores e liberdade de expressão e vida. Se amam em toda forma de amor, debocham do padrão heteronormativo e reagem ao mundo se autodepreciando, sendo sarcásticos e irônicos.

Gostei como a autora de alguma forma uniu passado e presente, a cultura, o comportamento social, as relações, o amor que ultrapassa tempo e espaço, unindo extremos opostos e confraternizando as uniões mais improváveis, quebrando todos os padrões. O afeto entre Jane e August vai crescendo ao longo das páginas fazendo com que a gente fique ansioso por saber qual vai ser a solução e como elas irão reagir.

As minhas ressalvas são em 3 pontos. Primeiro, acho que a autora usou um excesso de informações que poderiam ter sido poupadas. Muito bom acompanhar os encontros do casal no metrô - a maioria bem picante rsrs - mas creio que algumas partes foram repetitivas e trazendo o mesmo dilema já abordado desde que August descobriu o problema de Jane. Segundo, por mais que o livro não seja especificamente scifi, fiquei com a impressão de que a viagem no tempo foi colocada só como um obstáculo mesmo, sem nenhum aprofundamento, só hipóteses. E por último, o final foi "perfeito demais" e não muito coerente.

De qualquer forma o livro é muito gostoso de ler, é uma história linda, sobre amor, sobre buscar sua identidade, seu espaço, seu mundo, seu eu, sobre não tentar se encaixar e sim viver livremente... cheio de reflexões e referências bacanas, Última Parada é para quem está disposto a viajar sem medo, entendendo o passado pra mudar o futuro e podendo encontrar sua melhor versão de si na próxima estação!