Na sala de visitas...Carolina!
Quando chegou o livro Quarto de despejo de Carolina Maria de Jesus deliciei-me com seu cheiro e logo devorei cinquenta páginas sob o sol matinal. A história dela é de muita força e coragem, a simplicidade da escrita, a superação, a consciência que tinha sobre si, sua realidade e dos demais, do lugar onde vivia e como observava a vida dos demais. É exatamente sobre isso, todo mundo tem algo pra ensinar e ela, vivendo onde viveu, na favela do Canindé em São Paulo, passando maus bocados; semianalfabeta e sonhadora, transmitiu com toda simplicidade que lhe cabia neste que é um clássico da literatura brasileira, traduzido para treze idiomas. Logo após o laçamento, em 1960, vendeu mais de 100 mil exemplares. Muitos desses comprados pela curiosidade sobre como vivem os favelados, pois só mesmo quem vive pode saber. Audálio Dantas, jornalista que transcreveu os manuscritos de Carolina e colaborou para torná-la pública a conheceu em vias de fazer uma reportagem sobre a favela, mas desistiu no instante em que a conheceu. Sensato. Seria como um homem explicar como é ser uma mulher, como é sentir cólicas, TPM e etc. Não têm esse direito.
É um livro realista, com doses de ironia e paradoxal beleza.
Muitos trechos foram ocultos por Audálio por ser de intensa repetição nos assuntos abordados por Carolina, como a fome, a lama, e todas as dificuldades que vinham junto.
É inspirador sobre como apesar das dificuldades, uma mulher preta, mãe solo de três, catadora de papel, numa favela, soube viver com tamanha sensatez.
Carolina me inspira a acreditar no meu melhor, a enxergar a vida como ela é, não como eu gostaria que fosse, no entanto sem deixar de sonhar.
Ser feita de aço e vestir-se de céu é melhor que enxergar tudo amarelo.
" Mas eu lhe ensinei que a é a e b é b. Ele é feito de ferro e eu sou de aço. Não tenho força física, mas minhas palavras ferem mais do que espada. " pg. 51