Tistu e seu dedo verde

TISTU E SEU DEDO VERDE

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance infantil “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon. José Olympio Editora, 40ª edição, 1990. Título original: “Tistou les pouces verts”, “copyright” Promotion et Diffusion Littéraires S.A., Genebra-Suíça. Tradução e introdução de Dom Marcos Barbosa, O.S.B. Desenhos e capa: Marie Lousie Nery.

 

Já fazem muitos anos que li “O menino do dedo verde” e esquecera diversos detalhes, mas de outros lembrava bem. Dom Marcos Barbosa, o tradutor, compara a obra com outra que ele traduziu, “O Pequeno Príncipe”. Eu conheci Dom Marcos e foi um conhecimento marcante. Se pego uma obra que leva o seu nome, vem a saudade.

Todavia não penso que a história de Tistu seja comparável com a do Pequeno Príncipe, mundialmente famosa. Os absurdos de “Le Petit Prince” — como os asteroides minúsculos cada qual com um habitante — são facilmente reconhecidos como metáforas e até as crianças fazem a “suspensão da incredulidade” e aceitam. Mas o Tistu, o menino cujo polegar verde faz crescerem plantas e flores de qualquer lugar, já se move num mundo mais terra-a-terra e onde as incoerências ressaltam mesmo num livro infantil.

Assim, um pai chamado Senhor Papai e uma mãe chamada Dona Mamãe, já soa como tolice. Um menino de oito anos que não sabe o que é morte também parece absurdo. Mas o pior é a fábrica de armas do Sr. Papai, na cidade de Mirapólvora: quando estoura a guerra entre duas nações fictícias elas ainda vão comprar armas justamente a essa fábrica. Tistu, cujo poder ainda não é conhecido, trata de sabotar tudo, passando o seu “dedo verde” nos canhões e demais equipamentos bélicos. Assim é que os canhões só conseguem disparar flores... e a guerra termina.

Tendo em vista a atividade daquela fábrica, fica meio sem sentido o espanto que diversos personagens — como os pais de Tistu e o criado Cárolo — exibem na página 94, ao tomarem conhecimento da nova guerra. Aliás na vida real, por desgraça, não passa ano sem guerras em vários lugares.

Há poucos personagens na história, com destaque para o Bigode, o sábio jardineiro, o homem que identificou o dom de Tistu. Há o Sr. Trovões, o mal-humorado diretor da fábrica de armas. E também o burrinho Ginástico, que fala com Tistu.

É claro que a mensagem é anti-bélica e também satiriza certos costumes e hipocrisias da humanidade. Mas fica aquém, nesse tema de guerra e paz, da novela infanto-juvenil do brasileiro Thales Andrade, “O sono do monstro”.

Em todo o caso, e também pela parte espiritual da fábula, “O menino do dedo verde” é obra recomendável para a leitura das crianças, pois ensina ecologia, nomes de plantas e flores, altruísmo e amor pela paz entre os povos.

 

Rio de Janeiro, 15 de abril de 2022.