Resenha do livro Capitalismo Parasitário - Zygmunt Bauman
''Este livro reúne interpretações de Zygmunt Bauman sobre fatos e comportamentos atuais. Com sua habitual argúcia, o sociólogo comenta temas em aparência diversos: crediários, hipotecas, crise na educação, superapologia da informação, efemeridade dos bens culturais, bulimia, anorexia, medo.'' (orelha esquerda do livro)
Capitalismo Parasitário é um livro curto, com menos de 100 páginas, onde ele argumenta que o capitalismo é parasitário na vida das pessoas, e a liberdade individual atual é um impedimento para que a sociedade conviva numa agradável coletividade. Outros temas são abordados, como o mundo do cartão de crédito e empréstimos que, de acordo com o autor, seduzem às vítimas para que elas adquiram a seus serviços e se endividem ainda mais, além da mudança educacional, relações superficiais entre as pessoas e medo. É o segundo livro de Bauman que leio, e, embora não concorde com suas idéias marxistas e anticapitalistas, eu o leio por curiosidade. Para Bauman, todos os problemas que possuímos em nossa sociedade atual é decorrente do capitalismo, globalismo e liberdade individual das pessoas.
''Sem meias palavras, o capitalismo é um sistema parasitário. Com todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro, destruindo assim, cedo ou tarde, as condições de sua prosperidade ou mesmo de sua sobrevivência.'' (pág.09)
''Um jornal dominical britânico publicou a história de um homem de 51 anos que tinha uma dívida de 58mil libras com 14 empresas de cartões de crédito e agências financeiras. [...] Mesmo lamentando, a posteriori, a leviandadde que o jogou em situação tão desagradável, o homem se queixava também de quem tinha lhe emprestado o dinheiro: a culpa, dizia ele, era ''em parte'' deles, por terem tornado tão fácil de endividar.'' (pág. 16)
É um fato de que vivemos numa sociedade de consumo. Aliás, todos querem consumir, e muitos fazem propaganda e exibições de novos produtos que compram pelas redes sociais. Independente de qualquer coisa, possivelmente todo indivíduo tem um objeto de consumo em mente, seguindo sempre a mentalidade de ter um trabalho para ganhar dinheiro e gastá-lo com um objeto ou algo em especial. É necessário que todos tenham uma educação ou um limite para gastar, pois ofertas e lançamentos estão sendo exibidos sempre: desde lojas de shopping, até emails da uma loja de conveniência. Toda loja/empresa trabalha para vender seus produtos, além de técnicas de vendas, mas ao mesmo tempo é importante que as pessoas tenham a capacidade de dizer ''não'' quando bem entenderem.
''Podemos dizer que, em sua fase líquido-moderna, a cultura é feita na medida da liberdade de escolha individual (voluntária ou imposta como o brigação). É destinada a servir às exigências dessa liberdade. [...] A cultura hoje é feita de ofertas, não de normas.'' (pág.33)
Cada pessoa tem suas necessidades pessoais, desejos pessoais e no geral, cada indivíduo é único, com sua história, sonhos e cultura. Baumann sempre costuma reforçar que o indivíduo em si precisa ser tratado com coletividade e não de modo individual. Cada um compra o que mais lhe agrada e não o que lhe é imposto a comprar, além de que, há diversos tipos de diversas coisas disponíveis para se escolher. Cada pessoa tem um gosto peculiar a algo.
''No mundo líquido-moderno, a solidez das coisas, assim como a solidez dos vínculos humanos, é vista como uma ameaça: qualquer compromisso a longo prazo (e mais ainda por prazo indeterminado) prenuncia um futuro prenhe de obrigações que limitam a liberdade de movimento e a capacidade de perceber novas oportunidades (ainda desconhecidas) [...]. O que nçao surpreende, pois todos sabem que até os objetos de desejo logo envelhecem, perdem o brilho num segundo e, de símbolos de honra, transformam-se em estigmas de infâmia.'' (pág.41)
O excessivo consumismo infelizmente é presente na vida de muitas pessoas: desde gastar bastante em bebidas alcoólicas em um único dia, ou ter/comprar diversos pares de sapatos da última tendência. Qualquer um faz o que quer com o seu dinheiro, porém, as relações entre as pessoas de fato, não é a mesma. Vínculos que se rompem constantemente, e é visto como naturalidade algo não durar pra sempre, ou por muito tempo. É constantemente visível o descarte de diversas pessoas na vida de alguém. O materialismo ganha forma ao ponto do objeto de consumo não ser apenas objetos, mas sim as próprias pessoas através do apego à matéria e corpos. Como exemplo disso, é possível observar nas redes sociais e até aplicativos de relacionamento, onde os indivíduos fazem sua propaganda através do seu físico, sendo escolhido muitas vezes através disso e não pelo seu ''eu''. Nesse ponto, eu concordo com ele completamente, exceto na causa desse problema que seria unicamente o capitalismo. É como se grande parte das pessoas adotassem esse sistema de consumo em suas vidas, independente da sua ideologia: muita exibição, consumismo, e também, muito egoísmo e emburrecimento.
''os adolescentes perdem alguns importantes sinais sociais porquê estão muito concentrados em seus Ipods, celulares ou videogames. Na sala de aula, percebo continuamente que não conseguem cumprimentar e nem estabelecer contato visual''. (pág.66)
As pessoas, em grande parte, estão mais preocupadas em exibir seus acontecimentos pessoais nas redes sociais, do que de fato aproveitar esses momentos. É o tempo de se ter diversos contatos disponíveis, onde muitas vezes se beiram à superficialidades e aparências. Onde muitos se conhecem pelo perfil do Instagram, mas ao mesmo tempo, pouco sabe da pessoa em si. Essa realidade de estar atrás de uma tela, sem dúvidas, alterou bastante a forma de relacionamentos e o contato entre as pessoas. E, de acordo também com o autor, as fotos tiradas acabam durando mais que os próprios relacionamentos. E realmente, está cada vez mais difícil ter laços verdadeiros e duráveis.
Pra finalizar, acabo concordando com a consequência de alguns problemas, e não com sua causa em si, que seria unicamente baseado no capitalismo e globalismo, mas sim nas próprias pessoas e seu estilo de vida. A busca pela perfeição tem sido constante: a exibição exacerbada nas redes sociais com uma nova roupa, o desejo de comprar diversos sonhos de consumo onde consequentemente o que ocorre é o endividamento financeiro. Sem dúvida, o modelo de relacionamento mudou, o antigo desejo de se casar e ter filhos também não está presente em muitas pessoas, amizades e laços gerais não são tão duradouros como antes. As coisas vão mudando conforme o tempo passa, e em minha geração posso considerar que nem todas essas coisas são completamente boas. E não seria uma mentira afirmar que o medo, egoísmo e individualismo está muito presente nos nossos dias atuais.