Resenha do livro Feminismo: perversão e subversão - Ana Campagnolo

''Quero convencer o meu leitor de uma verdade apenas: o feminismo é um movimento político que contribui para o desentendimento e a crescente amargura entre os sexos, acelera a desagregação familiar, induz à eterna insatisfação e à libertinagem sexual, valendo-se para isso de discursos sofistas, pesquisas fajutas e manchetes tendenciosas, geralmente às custas do dinheiro de contribuintes alheios ou contrários a tais objetivos.'' (orelha da capa)

Inicialmente, preciso afirmar que é um livro cheio de trechos de obras das principais feministas e também autores importantes, onde a autora registra essas fontes tanto abaixo da página, como na parte bibliográfica do livro. Sendo assim, é um estudo onde trata uma outra versão do feminismo culturalmente conhecido, sendo alvo de diversas críticas (uma boa parte relata que o livro é algo pessoal, porém, é recheado de trechos de diversas obras de outros autores, como Simone de Beauvoir, onde a autora comenta também sua análise pessoal, onde esta última é mais encontrada em grande parte no final do livro). Também, é um livro repleto de comentários positivos e negativos na internet. Com base nisso, resolvi lê-lo por curiosidade e tirar minhas conclusões.

É um livro recomendado para todos, inclusive para as feministas, onde, obviamente, muitas dessas possivelmente não irão gostar: é basicamente a mesma coisa de um cristão ler um livro de Nietzsche. Nem todo mundo tem a habilidade de ler um livro de quase 400 páginas falando o outro lado da moeda, ou algo diferente do que se acredita, e quando o tem, geralmente procura vídeos do Youtube ou páginas de Redes sociais para uma rápida e supérflua compreensão. Como sou uma pessoa curiosa e que gosta de entender outros pontos de vista, me lancei à leitura.

No geral, a autora se expressou bem nas explicações e entendimento geral, principalmente na colocação de diversos trechos de autores. Para uma análise mais completa, esse texto muito possivelmente sairá longo, pois desejo compartilhar alguns trechos interessantes do livro.

''Segue um trecho do historiador holandês e teórico militar israelense Martin van Creveld: ''[..] Quanto mais adversas e primitivas as condições de um dado lugar e época, menos mulheres há nele; inversamente, o número relativo de mulheres em um dado lugar e época reflete o progresso da civilização e seus confortos. [...] Durante a segunda metade do século XIX, vários chineses imigraram para os Estados Unidos fugindo da fome. As condições de trabalho que tinham que aceitar na América eram terríveis: salários miseráveis, moradia em barracas em locais incertos e muita humilhação.'' (pág.42)

''Muitas mulheres proletárias, que trabalham dura e incansavelmente, desejariam ter a vida da mulher burguesa, sustentada pelo marido e cercada de confortos e poucas responsabilidades. Já mulheres burguesas tiram de algum lugar a sensação de que deveriam fazer de suas vidas algo mais produtivo, ingressando no mercado de trabalho - obviamente, não no mesmo trabalho que mulheres proletárias. [...] Simone de Beauvoir, célebre feminista da segunda onda, teve o disparate de comparar as mulheres casadas aos escravos negros do tráfico iniciado no século XVI. Mas Mary Wollstonecraft escreveu em 1792, que as mulheres de sua época eram tão mimadas quanto os nobres e ricos.'' (pág.44)

'' Wollstonecraft afirma que: A mulher que permanece fiel ao pai dos seus filhos exige respeito e não deve ser tratada como uma prostituta; embora eu concorde prontamente que, se é necessário que o homeme a mulher vivam juntos para criar os filhos, a natureza nunca pretendeu que um homem tivesse mais do que uma esposa.'' (pág.47)

''O que Mary Wollstonecraft compreendeu e teve a decência de admitir - o que falta a quase todas as feministas atuais - é que o modelo cristão monogâmico de casamento (o único possível) é o ideal mais vantajoso para a situação da mulher como mãe e companheira de um homem. [...] o casamento foi o meio legal encontrado para proteger financeiramente tanto Mary quanto o bebê que nasceria em breve [...] O casamento, valorizado e defendido pela cristantade, recomendado para a proteção econômica da mulher e da prole, cumpre seu papel legal assegurando à esposa a mesma condição financeira do marido enquanto ele viver e, provavelmente, uma condição melhor quando ele morrer. [...]'' (pág47-48)

''Mary não suportava a futilidade feminina. Ela acreditava que se houvesse drástica mudança no que se exige das mulheres no plano educacional, então, poderíamos saber com clareza quais são as tendências naturais da mulher e quais lhes são impostas. Essa hipótese foi desbancada. Com o advento do sec. XXI, o que podemos notar é que, depois de tantas revoluções sociais, depois de tantos direitos conquistados e de tanto pareamento educacional e legal, as mulheres continuam investindo no que Mary chamava de ''perda de tempo''.''' (pág.71)

De acordo com o que li sobre Mary, no séc XVII, uma das primeiras e famosas feministas, ela observava que as mulheres eram fúteis, tanto por causa das conversas femininas, que se baseavam em moda, consumo e futilidades em geral, além de muitas vezes viver uma vida confortável dentro do lar, diferentemente dos homens da época, que tinham assuntos mais inteligentes e eram mais ativos na sociedade. É como se a valorização da mulher fosse a aparência em primeiro lugar, e só depois o intelecto. Essa crítica de Mary pode ser aceita nos dias de hoje, onde muitas mulheres priorizam mais sua aparência e corpo nas redes sociais, do que o seu intelecto. Mary acreditava que as mulheres só seriam capazes de alcançar os homem se ambos tivessem ao mesmo nível de educação. Eu realmente fiquei com vontade de ler alguma obra dela.

''De fato, legalmente, os homens que tivessem filhas e filhos deveriam deixar os bens para os filhos homens, cujo dever não era senão prover a subsistência da mãe. O direito à propriedade ou à posse, foi, portanto, prerrogativa masculina. É preciso reconhecer, contudo, que mesmo sem acesso direto à herança, as mulheres eram assistidas por algum homem da família que dispusesse desses bens. Com esses bens, sustentavam eles mulheres e filhos; então, e alguma forma, pode-se dizer que havia sempre mulheres vivendo às custas dos homens.'' (pág.76)

''Em 1885, Engels se pronunciou dando os sinais da consumação do casamento entre a ideologia marxista e o movimento feminista. Acerca da importância do crescimento do Estado para a meta feminista de equiparação entre homens e mulheres, ele disse: Estou convencido de que a verdadeir igualdade de direitos entre as mulheres e os homens só poderá tornar-se realidade quando [...] os afazeres domésticos, que hoje são realizados individualmente, convertam-se em um ramo da produção social.'' (pág.100)

''Mesmo a autora feminista Kate Millett é obrigada a admitir: ''As crianças vagueavam frequentemente pela rua, a delinquência juvenil tornou-se um perigo considerável''. Percebe-se a ironia: depois da revolução socialista, os homens revolucionários passaram a abandonar suas mulheres com facilidade e ainda usavam como justificativa a acusação de ''reacionárias' a elas. [...] ''O estado é ainda muito pobre para assegurar a vossa manutenção e a educação das crianças. Por consequência, aqui fica nosso conselho: abstinência!'' (pág.108)

''Não é incomum algumas mulheres ascenderem socialmentr ou melhorarem suas condições de vida com um casamento, e também não é raro depositarem esperanças em uma vida mais feliz, após a oficialização do matrimônio. [...] Os amigos do noivo, por outro lado, caçoam do pobre coitado como se ele estivesse abrindo mão de sua liberdade ou acabando oficialmente com as possibilidades de farra. ''(pag.203)

''Se o foco for econômico, contudo, não restam dúvidas de que o homem tem muito mais a perder. Mesmo nas improváveis comunidades onde o feminino é cultuado como superior, as mulheres nunca foram obrigadas a sustentar ou proteger seus parceiros sexuais como os homens têm sido, em milênios de patriarcado, obrigados a fazer com relação às esposas.'' (pág.204)

Recentemente eu vi uma postagem de uma página feminista afirmando que o casamento era mais opressor para a mulher do que para o homem. Mas ao mesmo tempo, eu costumo assistir e analisar canais diversos, onde muitos não recomendam o casamento para o homem no mundo moderno, assim como para mulher. Na verdade, o casamento por si só é visto como ''morar por conviência, sem necessariamente se casar no registro'', ou uma escolha que não vale a pena, justamente pelo alto número de divórcios e a grande probabilidade de perder bens pessoais através desse processo. Há também um alto desinteresse por parte das mulheres em relação ao casamento, mas pelo que observo, não tão alto como o desinteresse masculino. Não é necessário mais se casar para constituir família, já que muitas vezes as pessoas tem filhos fora disso, além da maior chance de parceiros sexuais disponíveis, principalmente quando a pessoa está solteira.

Eu realmente queria adicionar outros trechos interessantes do livro, principalmente das figuras feministas, mas a resenha ficaria enorme.

O livro é recheado de diversos pensamentos que seria interessante pararmos para refletir. Um básico conhecimento sobre o marxismo também facilita mais o seu entendimento em algumas partes, já que houve uma junção oficial do marxismo com o feminismo no final do século 18. Aprender história é fundamental para compreender mais a história do feminismo, mas eu analisando de maneira geral a história das feministas e suas trajetórias, elas tinham algo em comum: consideravam o casamento heterossexual opressor para a mulher, especialmente o fato de engravidar e ter filhos, a negação ao cristianismo também pode ser observada, pois o pensamento chave contra a família, o casamento e filhos mostra uma espécie de conflito aos preceitos cristãos, com o objetivo da mulher ser mais ativa na sociedade, e também sexualmente, podendo ser livre pra viver diversos prazeres sexuais, assim como a valorização do próprio corpo na questão sexual (com base nas biografias das principais feministas, no geral, elas tinham diversos casos sexuais, como Simone de Beavoir). A opressão à mulher naquela época era um fato inegável, e qualquer mulher que seguisse um caminho diferente de casar e ter filhos costumava ser mal vista.

É apresentado que o movimento feminista ganhou força no marxismo e diversas feministas eram marxistas/comunistas, já que acreditavam no dever do Estado para oferecer creches, escolas de grande período, além de outras instituições, justamente para que as crianças sejam cuidadas e educadas pelo próprio Estado, e não pela família em si, pois como dizia Engels: Família é um símbolo de instituição privada que precisaria ser destruída para acabar com as desigualdades e opressões femininas.

Finalizando, é um livro que vale a pena ser adquirido, servindo principalmente para aprimoramento do raciocínio crítico sobre o assunto, pois, como já falado inicialmente, é interessante conhecer o outro lado da moeda, no caso, o que outras pessoas pensam sobre o assunto. Finalizarei com um trecho localizado no final do livro, que gostei muito:

''As mulheres não precisam optar entre feminismo e antifeminismo. Os homens tampouco precisam escolher entre feminismo ou machismo. Ninguém precisa abraçar uma ideologia para viver. [...] Não se trata de abraçar uma ideologia para se livrar de outra, trata-se de descobrir como se vive sem amarras ideológicas''. (Pág.376)

Acredito que muitas pessoas estão perdidas através de suas próprias crenças e ideologias, se importando apenas em defendê-la do que procurar saber criticamente outros lados e versões, usando mais a ''paixão'' - ao ponto de pesquisar apenas conteúdos que reforcem seus próprios pontos de vista, sem se interessar em estudar um pouco os argumentos de outras ideologias. A ciência se dá no pensamento racional, e não passional, ao ponto de estudar (e ter noção) dos prós e contras em relação a algo. O livro envolve pensamento político, o que o torna um tanto polêmico, mas vale a pena a leitura.

Amanda Passos
Enviado por Amanda Passos em 27/03/2022
Reeditado em 19/06/2023
Código do texto: T7482153
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