Resenha do livro: As garotas da fábrica - Leslie T. Chang

AS GAROTAS DA FÁBRICA - Da aldeia à cidade, numa China em transformação

''Esta investigação sobre a vida profissional e pessoal das jovens operárias das fábricas que sustentam o crescimento econômico da China durou três anos. Assinado por uma descendente de imigrantes chineses, revela como acontece o maior movimento migratório da história e apresenta um retrato social e humano ímpar, de alcance global.'' -Parte posterior da capa do livro.

Foi eleito um dos melhores livros de não ficção do ano na New York Times.

É um livro que conta detalhadamente a vida de mulheres que trabalham em fábricas na China, em torno dos anos 2000, sendo retratado a cultura chinesa, o processo da saída de cidades do interior para as maiores cidades, onde muitas pessoas buscam desenvolver sua vida profissional em meio de trabalhos exaustivos em fábricas chinesas. É válido lembrar que a autora é historiadora e resolveu sair dos EUA para conhecer a cidade natal de sua família na China, sendo essa uma espécie de tradição chinesa, onde todos os descendentes chineses costumam ir para a China e a cidade dos seus parentes para conhecer um pouco mais sobre sua história. Ela conheceu algumas pessoas, onde foi dando início aos personagens dos livros, podendo concluir que é um livro baseado em fatos reais e com fontes utilizadas em alguns dados, e também com referências históricas sendo todas registradas na parte final do livro.

A história aborda de forma interessante e fluída a vida de mulheres nas fábricas e como é a vida delas no geral. O trabalho em fábricas e empregos de forma geral, são completamente exaustivos e exigentes, onde basicamente este ocupava 90% da vida de uma típica pessoa chinesa que sai de sua cidade natal para alguma metrópole. A vida das mulheres era baseada em sair cedo, ou mudar de cidade para trabalhar, muitas vezes sem ter aprovação dos pais a depender da cidade e do trabalho, encontrar algum trabalho, enviar parte do salário para os pais (outra tradição chinesa, que diz que o filho precisa pagar o que os pais investiram nele desde o dia em que nasceram), fazer algum curso e estudar (o que era muito difícil, já que o trabalho em si tomava grande parte do tempo). É uma realidade não muito simples, naquilo de grande tempo de trabalho e salários muitas vezes baixos, além de algumas exigências sob os trabalhadores: idade, altura, falar outra língua, etc.

Uma mulher chinesa precisa desenvolver sua vida profissional, para depois casar e ter filhos. Por um lado em relação aos homens, muitas acabam tendo mais liberdade, justamente pelo homem ser visto como aquele que vai se casar e trazer consigo sua mulher para a casa dos seus pais, enquanto uma mulher, de acordo com a cultura chinesa, ela vai para a casa dos pais do marido, deixando sua família. Com isso, os pais da mulher costumam implicar com a distância da moradia que o futuro cônjugue vive, pois se ela se casar com um homem que seja de outro lugar, possivelmente os pais não verão tanto a filha e netos de forma constante.

A história da China foi abordada de forma interessante, onde no geral muitos chineses sentem vergonha das coisas ruins que ocorreram no seu passado e muitos fatos foram ocultados ou alterados pelo governo. Foi tratado sobre a chegada do regime comunista na China, onde foi iniciada com mortes ou punição à aqueles que eram contra ao governo.

''No século VII, os imperadores da dinastia Tang ordenaram aos historiadores da corte que redigissem uma crônica da dinastia anterior. Desde então, toda a dinastia escreveu a história da anterior, distorcendo ou omitindo fatos para favorecer o regime em vigor.'' (pág.45)

''[...] e fiquei novamente sozinha naquele que era certamente o único museu da história da China em que não se via nem uma única referência a Mao Tse Tung.'' (pág.46)

''Agentes do partido se espalharam por aldeias de toda a Manchúria, avaliando a ''situação de classe'' de cada família e confiscando terras e gado das propriedades ricas para distribuir entre os mais pobres. [...] Militantes do partido instruíam os aldeãos a denunciar os proprietários de terras em assembléias públicas conhecidas como ''sessões de luta''; suas vítimas eram amaldiçoadas, humilhadas e espancadas. A terceira onda, no inverno de 1948, foi a mais radical, culminando com a morte de incontáveis ''inimigos da revolução''. A escalada da violência era considerada essencial para a eliminação do velho sistema.'' (pág. 136-137)

É um excelente livro, que trata de forma imparcial a história e cultura da China. A chegada do capitalismo na China, mesmo nas condições exaustivas de trabalho em fábricas e o desejo das pessoas em desenvolver sua vida profissional e além disso, estudar para obter melhores cargos de salários, e desejos de consumo, fez com que a China em si crescesse e se desenvolvesse de uma forma que não ocorreu antes.

''No fim da década de 1970 as reformas permitiam às famílias de agricultores vender parte da colheita no mercado, em vez de entregar toda a produção ao Estado. A produção agrícola aumentou exponencialmente; de repente, havia alimentos nos mercados locais de todo o país. Pela primeira vez os moradores do campo eram capazes de sobreviver de maneira independente nas cidades.'' (pág.18)

Finalizando, é um livro de leitura fluída e interessante, daquelas que te prende até ao final. Pela capa parece ser simples, mas é possível aprender sobre a China como um todo ao finalizar a leitura: pois trata sobre capitalismo, comunismo, o trabalho nas fábricas, a vida das mulheres e também da população da China como um todo (embora o foco sejam nas trabalhadoras chinesas), desde sua vida profissional à sentimental, cultura geral e também familiar.

Amanda Passos
Enviado por Amanda Passos em 24/03/2022
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