Resenha Livro Tempos Líquidos- Zygmunt Bauman
O livro Tempos Líquidos, onde em seu rodapé apresenta ''A insegurança é a marca fundamental dos tempos líquido-modernos. Terrorismo, crime organizado, desemprego e solidão: todos esses são fenômenos típicos de uma era na qual, para Zygmunt Bauman, a exclusão e a desintegração da solidariedade expõem o homem a seus temores mais graves''.
Durante todo o livro, Bauman apresenta que os problemas da sociedade como pobreza e desigualdade, são frutos da globalização e capitalismo, temas estes, que são apresentados desde o seu início. ''O bem-estar de um lugar, qualquer que seja, nunca é inocente em relação a miséria do outro [...]'' (pág.12)
''A perversa abertura das sociedades imposta pela globalização negativa é por si só a causa principal da injustiça e, deste modo, indiretamente, do conflito e da violência[...] e evidentemente, o terrorismo- que avança de mãos dadas com o progresso da globalização liberal[...]'' (pág.14)
''As organizações não capitalistas fornecem um solo fértil para o capitalismo: o capital se alimenta das ruínas dessas organizações e, embora esse ambiente não capitalista seja indispensável à acumulação, esta avança, não obstante, à custa desse meio, devorando-o. [...] o capitalismo é como uma cobra que se alimenta do próprio rabo...'' (pág.33)
A importância da atuação do estado em relação às pessoas, e a autoridade estatal também são firmemente defendidas, onde, de acordo com o autor, a atuação estatal contribui para o bem-estar social e coletividade de uma nação, onde o indivíduo também acaba sendo visto como um todo, em forma coletiva. Em algumas partes, o autor também relata que liberdades individuais é um inimigo da coletividade, e as pessoas estão se tornando mais individualistas, pois elas próprias escolhem seus serviços, onde comprar, o que comprar, do que precisam, e isso é criticado duramente, justamente pelo fato de que o estado deveria ser o responsável por nutrir e atender as necessidades gerais das pessoas.
''Com o progressivo desmantelamento das defesas construídas e mantidas pelo Estado contra os tremores existenciais, e com os arranjos para a defesa coletiva, como sindicatos e outros instrumentos de barganha, com cada vez menos poder devido às pressões da competição de mercado que solapam as solidariedades dos fracos, passa a ser tarefa do indivíduo procurar,encontrar e praticar soluções individuais para problemas socialmente produzidos, assim como tentar tudo isso por meio de ações individuais, solitárias, estando munido de ferramentas e recursos flagrantemente inadequados para esta tarefa.'' (pág.20)
''À luz do que se discutiu anteriormente, não surpreende em absoluto que se esteja buscando uma legitimação alternativa da autoridade do estado e outra fórmula política em benefício da cidadania conscienciosa na promessa do estado de proteger seus cidadãos contra os perigos da proteção social.'' (pág.21)
''A liberdade de escolha é acompanhada de imensos e incontáveis riscos de fracasso.'' (pág.71)
Bauman defende ideias marxistas, então basicamente todo o livro segue pensamentos marxistas, onde sua visão de sociedade como um todo e seus problemas sociais é fruto do capitalismo e globalização. Talvez uma pessoa que nunca tenha lido um livro político não vai conseguir captar completamente as mensagens do autor e seus significados, principalmente os pensamentos marxistas. De acordo com ele, o medo presente nas grandes cidades é devido a baixa intervenção estatal na segurança e as pessoas em si possuem desejo e necessidade de contratar seguranças, portões de segurança, fechaduras e dentre outras coisas de proteção para protegerem sua propriedade. (Seria isso uma crítica à propriedade privada?).
Numa parte do livro foi abordado que o que uma população realmente precisa é de um Estado social, aquele estado que ajuda e intervém em toda a população, diferente de procurar trabalho, ter seu próprio dinheiro e viver num mundo consumista. Mas convenhamos que atualmente todos querem ter algo, o desejo de posse está presente em basicamente todo o ser humano. Vivemos numa realidade que precisamos ter dinheiro, precisamos trabalhar e as pessoas querem ganhar e desfrutar desse dinheiro com o que quiserem. Muitos criticam isso, mas essas mesmas pessoas ao mesmo tempo não são uma exceção, pois também querem possuir algo. Querendo ou não, tudo tem um valor, independente do modelo político em um país.
Também foi abordado sobre os refugiados, onde estes acabam sendo tratados como lixos humanos no país que acabavam ficando, sendo vítimas de preconceito e sem ter direitos nesses países. A defesa de um país sem barreiras nas fronteiras também é defendida (estaria de acordo com a tese de que os marxistas não gostam fronteiras?), além de ser a favor de um país com diversas pessoas de diversos lugares, culturas e etnias.
Vale ressaltar, que um país com grande intervenção estatal não é sinônimo de prosperidade e vida boa, onde as pessoas teriam mais coletividade e melhor forma de se relacionarem entre si. Como exemplo, pode-se citar a China, onde num período viveu num período totalitário de controle estatal com diversas mortes, fome e pobreza. Eu particularmente acho que o ser humano por si só é egoísta e único, pois nas situações difíceis cada um acaba pensando primeiramente em si mesmo. Seria injusto tratar da mesma forma todo indivíduo de todo mundo, já que possuem diferentes culturas, histórias e religiões.
Em países totalitários com grande intervenção estatal, a segurança é realmente absoluta, onde uma pessoa que desobedeça uma mísera lei, pode ser morta e castigada, por exemplo, indo para Campos de Concentração como forma de medida socioeducativa e reeducação. Nada nesse mundo será as mil maravilhas, mas ao mesmo tempo o capitalismo foi capaz de produzir bem-estar e qualidade de vida em diversos setores, seja pesquisas na área da saúde, como novas cirurgias, novos estudos com novos medicamentos, descobertas tecnológicas no geral em produtos diversos, inovação constante. A situação de uma pessoa e população no geral acaba dependendo do país e realidade pela qual vive. No Brasil e em diversos países por exemplo, há benefícios do governo, mas alarmante corrupção e outros problemas. A raíz de alguns problemas em sí podem não ter apenas uma coisa como causa única, no caso o capitalismo por exemplo, mas sua forma de governo no país no qual vive. Bauman fala sobre as pessoas terem mais coletividade, mas será mesmo que na realidade todos seriam capazes de se dar bem entre si? As relações interpessoais nunca foram simples, e diversos problemas e sua origem vão muito além do contexto sociológico, seja econômico, político e etc.
Basicamente, os Tempos Líquidos de Bauman retrata que o consumismo, problemas entre relações humanas, pessoas individualistas e problemas sociais são frutos do capitalismo e globalismo. Se você pensou que a leitura seria sobre relações interpessoais, é claro que o foco e tema constante do livro não é sobre isso, além de elogiar os pensamentos marxistas e anticapitalistas como base de defesa de uma sociedade mais igualitária, sem pessoas ricas e privilegiadas, com intervenção social do estado na vida das pessoas como um todo.