RESENHA | Os EUA e a Nova Ordem Mundial -- Um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho

Blocos de poder disputam pela primazia sobre todas as nações da Terra

De 4 de março a 31 de julho de 2011, Olavo de Carvalho e Alexandre Dugin foram os protagonistas de um debate cujo tema, por puro preconceito e inépcia mental dos formadores de opinião no Brasil, é apresentado amiúde com o taxativo carimbo de "teoria da conspiração". Esta designação é invocada tão logo o especialista-mor em pitacos midiáticos veja-se na presença de um tema assaz complexo para o qual, ante a mera suspeita do esforço da investigação, ele sente arrepios.

O livro Os EUA e a Nova Ordem Mundial é o resultado do debate entre os citados autores sobre as implicações políticas, culturais e espirituais da nova realidade vivida pelos cidadãos do mundo desde pelo menos o nascimento do Estado Moderno. A filosofia política do professor Olavo pode ser resumida em três pilares fundamentais: a Teoria do Metacapitalismo, a interpretação do Marxismo como cultura e a Teoria da Mentalidade Revolucionária.

No conjunto do seu trabalho, no qual as análises políticas não constituem senão uma ínfima porção, a tônica é uma espécie de "filosofia da consciência" que reforça o "primado da consciência individual contra doutrinas que tencionam suprimi-la". É embasado nesta realidade que o professor Olavo defende a sua interpretação do papel desempenhado pelos Estados Unidos no âmbito da Nova Ordem Mundial. Para o professor Olavo, a América é mais um dos blocos que disputam o poder global.

Alexandre Dugin, no entanto, tem uma interpretação da conjuntura global diferente e, sob muitos aspectos, antagônica à do professor Olavo. Dugin -- valendo-se dos argumentos que o leitor conhecerá -- levanta-se em defesa de uma teoria que apresenta a realidade política e cultural do mundo atual como a expressão de uma unipolaridade. O russo, que é filho de um ex-oficial da KGB, tornou-se, na juventude, um dissidente do regime comunista e ingressou em grupos tradicionalistas de círculos político-literários de Moscou.

A tônica da sua abordagem é a defesa do Eurasianismo contra o Ocidente Global cujo "coração" é a América. Dugin lança mão de argumentos que chegam às raias de uma fantasia triunfalista: a fim de justificar a expansão do "Império Russo" sobre a face da terra, ele afirma que o que legitima a primazia dos russos é uma espécie de relação étnico-cultural com uma civilização ancestral, os Hiperboreanos. Estes foram supostamente uma avançada civilização que vivera no extremo Norte do planeta, e dos quais os povos eslavos atuais descendem.

No entanto, o vigor da raça diminuíra na exata medida em que, através das migrações para o Sul, os Hiperboreanos estabeleceram contato com os habitantes locais. A miscigenação diluíra a tenacidade da raça superior. Sem a pureza racial primitiva, as nações eslavas estariam condenadas a um humilhante subdesenvolvimento. É bastante evidente as semelhanças desta narrativa mítica relativa à "Mãe Rússia" com a raça dos Arianos do Terceiro Reich.

Os autores abordam, cada qual à sua maneira, a realidade histórica, política, cultural e religiosa que implica sobre a atual conjuntura do mundo. Um dos debatedores -- não é difícil adivinhar qual --, em função do seu comportamento histérico e frequentemente desonesto, levou uma verdadeira surra. Quem ler verá.

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