Coletânea Tudo é Eventual
“Quando a pessoa levanta de manhã, não tem a mínima ideia do quanto sua vida pode estar mudada ao pousar de novo a cabeça no travesseiro, à noite. ‘Você não conhece o dia ou a hora', diz a Bíblia. Acredito que essa frase seja sobre a morte, mas ela se ajusta a todo o resto, rapazes. Todo o resto neste mundo. A gente nunca sabe quando está bebendo a última gota”. Após imersão no excelente “Sombras da Noite”, fui invadido por uma intuição: seria bastante improvável ver Stephen King reunir em outra obra tantos contos inspiradores. Para minha sorte, cruzando as trincheiras de sua vastidão literária, o destino maculou a perspectiva, reservando uma surpresa, afinal "Tudo é Eventual", que traz o trecho destacado acima, parte da narrativa “A Teoria de L.T. sobre Animais de Estimação”, é tão bom quanto a primeira antologia, lançada em 1978.
A coletânea invadiu as livrarias em 2002, reunindo 14 contos compostos pelo mestre do terror no período entre 1994 a 2001. Ainda há uma história no mínimo inusitada a respeito do artifício adotado para decidir como as tramas seriam dispostas no livro. Primeiro reuniu 14 cartas de um baralho, cada uma passou a representar uma história. O segundo passo é até fácil de presumir: as peças foram embaralhadas e escolhidas de maneira aleatória.
Das 14 histórias, vou me ater a destacar cinco: “Andando na bala”, “1408”, “O Homem do Terno Preto”, “Tudo é eventual” e “Sala de Autópsia”. Ainda assim, as demais histórias também revelam uma mostra de um King sucumbindo a momentos inquietantes. E ao transpor para o papel essa agonia, indubitavelmente criou um livro perturbante, com atmosferas sinistras, e acentuado grau de envolvência, como a marca do mestre do terror, tão apreciada por seus leitores fiéis.