A lenda do cavaleiro sem cabeça
Quando o assunto é “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”, a mente possivelmente remeterá ao ótimo filme assinado por Tim Burton e protagonizado por Johnny Depp, lá no fim da década de 90. No entanto, para compor a expressiva obra fílmica, o cineasta juntamente com os roteiristas Andrew Kevin Walker e Kevin Yagher, “retornaram” ao passado para buscar inspiração. Os túneis do tempo os levaram, precisamente, ao ano de 1820, quando Washington Irving publicava o conto "The Legend of Sleepy Hollow", lançado como parte do livro “The Sketch Book of Geoffrey Crayon”.
Embora as duas obras sejam mais dessemelhantes do que marcadas por similaridades, a breve narrativa é dotada de valor inexprimível, com Washington Irving oferecendo uma leitura cativante, proporcionada por uma construção textual bem delineada e com insólita dose de ironia e sarcasmo.
“A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” nomeia a coletânea que ainda inclui mais três contos extras: “Rip Van Winkle”, “O Noivo Espectral” e “O Diabo e Tom Walker”, compondo assim a edição comemorativa em capa dura, lançada em 2020 pela Editora Wish. A trama principal traz Ichabod Crane, um sujeito que se destaca pelo porte físico delgado e pela faceta um tanto supersticiosa. O bom pedagogo fixa-se no vilarejo Sleepy Hollow para exercer o ofício de educador. Logo, passa a alimentar rivalidade com o vigoroso cavaleiro Brom Bones, ambos postulantes à mão da bela Katrina Van Tassel, filha única de um rico fazendeiro. Após mais mais uma tentativa desenfreada de conquistar o coração da jovem, durante uma festa, no caminho de volta o protagonista passa a ser perseguido pela mais famosa assombração de Sleepy Hollow, o temível Cavaleiro sem Cabeça, descobrindo da pior maneira a veracidade em torno do mito tão incessantemente difundido.
O conto passa ao largo de despontar como uma narrativa perturbante, daquelas medonhas a ponto de provocar inquietude e se propagar fomentando os piores pesadelos. Ainda assim, carrega nas entrelinhas elementos do terror, além da possibilidade de mirar a escrita de um autor com repertório variado, considerado, inclusive, um dos precursores da literatura estadunidense.