Os degraus até o Olimpo
O mercado editorial tratou durante muito tempo os livros de fantasia como um nicho. Isso mudou quando alguns escritores e escritoras aficionados pelo gênero se dedicaram a autopublicar obras. A partir daí revistas especializadas, selos e novos criadores e criaturas passaram a preencher as estantes das livrarias e dos leitores. Dentre esses novos autores, se encontra Rubens José de Lima.
Nascido em 1995, em Agudos do Sul, Paraná, Rubens Lima já inicia com uma saga. Misturando referências da cultura pop e mitologia grega, Taico e a guerra dos deuses está em sua 2.ª edição, o que demonstra uma aceitação do livro pelo público e confiança dos editores. A responsável pela publicação foi a editora paulista Livrus. A revisão foi feita pelo próprio autor, o que explica alguns erros.
Me identifiquei com o autor em seu sonho de ser um escritor reconhecido e as suas inspirações para a escrita do tomo. Como um iniciante, sua escrita é permeada de erros que irão evanescer em futuras produções, mas que aqui aparecem de modo mais explícito. Parece ter sido a sua primeira publicação profissional, ao menos, não encontrei outros títulos do autor disponíveis para comprar.
O escritor é ousado em suas escolhas narrativas, mas nem sempre felizes. As homenagens e paródias que Rubens Lima se propõe a fazer acabam provocando uma anemia narrativa. Às vezes, tive a impressão de que lia uma light novel que foi adaptada em romance. Pensei em qual mídia se encaixaria melhor uma narrativa tão dinâmica, pensei em mangá, o que ele veio a se tornar no traço de Jayson Santos.
O livro começa narrando a história de um jovem helênico chamado Ico (alguém pegou a referência?). Estamos em plena Guerra do Peloponeso, travada entre as cidades-estados de Atenas e Esparta ocorrido entre 431–404 a. C. O protagonista e sua família acabam sendo atingidos em cheio pelos conflitos. Ico sobrevive e jura se vingar dos assassinos de seus pais.
Uma trama de vingança? Apesar do cenário histórico e do capítulo de apresentação, Ico é um falso protagonista. A história não irá se desenvolver para contar sobre a trajetória dele e de sua busca por justiça. Foi algo tão inesperado que acabei ejetado da leitura! Após me recuperar do nocaute, continuei. Ao escapar dos militares, uma estranha figura de um mago esquelético transforma Ico em Taico.
Depois da transformação, o novo protagonista acaba se envolvendo numa guerra entre deuses e criaturas mágicas. Julgo que se o autor quisesse usar o artifício de um falso protagonista, deveria ter criado um novo protagonista mais carismático e um enredo com trama mais robusta. O clichê pode ser seguro, mas entrega pouco. Dirso e seu subenredo são mais atrativos que Taico e a guerra.
Algumas coisas me incomodaram muito na trama. A superficialidade do fundo histórico da obra, isso quem fala é um graduando em História. Os anacronismos imperam, por exemplo, não existiam índios na Grécia Antiga, não mesmo. Faltou uma boa noção de geografia também, da Grécia ao Extremo-Oriente é muito chão e mar, e como os gregos sabiam da existência dessa região?
Não senti uma boa ambientação, principalmente nos nomes dos personagens, no livro há gregos com nomes ingleses. A trama se desenvolve célere, foca na ação e deixa as relações entre os personagens em terceiro plano. Subtramas se criam e ficam sem desfecho. Algumas coisas careceram de contextualização, e o que não tem contexto acaba por ser mal interpretado.
Do começo ao fim do livro, são apresentados personagens ao leitor. Sem personalidades ou carisma, preenchem as páginas. Se envolvem em lutas perigosas de maneira reativa. Penso que menos poderia ter sido mais. Já ficou difícil de acompanhar a mudança brusca logo no início do livro, precisaria de mais desenvolvimento de Taico para acompanhar tudo.
Apesar das críticas, considero que o autor tem muito potencial. Só precisa lapidar a sua escrita, e melhor escolher as suas ferramentas narrativas para não a tornar confusa. É o primeiro livro do Rubens Lima, primeiro de uma série. Isso de modo algum compensa os seus erros, a obra tem que ter coesão para quem lê, independente de quantos livros terá a saga de Taico e seus amigos.
Mesmo óbvias, as referências da cultura pop lhe caem bem. As raças e habilidades criadas pelo autor demonstram a sua criatividade latente. Parece haver muito mistério e cenário a ser explorado na série de livros. É uma obra que tem lá a sua magia, diverte de maneira despropositada. Não é uma história que se leve muito a sério, esse é um dos seus méritos. Sua serialização em mangá veio a calhar.
O livro possui 344 páginas, possui uma capa pouco inspirada, mas tem orelhas com fotografia e biografia do autor. Boa impressão e encadernação, miolo em papel pólen, 80 g/m2. O espaçamento e diagramação das páginas é confortável de ler, dá para abrir o livro todo sem quebrar a lombada quadrada. É uma obra para quem tem fôlego e leitura pouco exigente.
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