O futuro da Fé

O FUTURO DA FÉ

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro de entrevista “O futuro da Fé”, do Papa Francisco (entrevistado) e Dominique Wolton (entrevistador). Petra Editorial Ltda., Rio de Janeiro-RJ, 2018. Tradução: Pedro Sette-Câmara. Título original em francês: “Pape François, politique et societé: recontré avec Dominique Wolton”. Éditions de l’Observatoire/Humensis, 2017, e Librerie Editrice Vaticana. Imagem de capa: Servizio Fotografico – Vatican Media.

Os livros de entrevistas são, que eu saiba, um fenômeno bem recente e os três últimos papas aparecem em vários.

No caso atual o entrevistador é um sociólogo francês e autor de mais de trinta livros.

A impressão que eu tenho é que o Papa Francisco é homem muito paciente e que muitas perguntas de Wolton são impertinentes. Em todo o caso temas muito importantes são tratados. Por exemplo, o tema muito atual dos refugiados de guerra, perseguições, fome e catástrofes ambientais que não param de chegar na Europa. Wolton pergunta o que poderia ser feito na Europa e o Papa esclarece suas tomadas de posição: “Os europeus não estão de acordo quanto a esse assunto. Nos três discursos que fiz na Europa, os dois em Estrasburgo e o do prêmio Carlos Magno, falei disso tudo. Está tudo lá”. Aliás é conhecida a postura humanista do pontífice, sempre chamando a atenção para problemas em países esquecidos pela mídia.

Quanto à moral de costumes Francisco denuncia que mesmo algumas pessoas que se dizem católicas são hipócritas. E se referiu a uma senhora católica e filantropa com três filhos adolescentes que disse esta aberração: “Eu escolho com muito cuidado a minha empregada; não quero que meus filhos vão provar em outro lugar, quero que tenham em casa o serviço completo”. E conclui o Papa: “Isso é imoralidade”. Sem dúvida!

Ao longo do livro ficamos conhecendo muito do caráter amistoso e altruísta do Papa Francisco. Como em seu apostolado ele falou muitas vezes com pessoas em situações difíceis, como prostitutas que deixaram a prostituição, padres que abandonaram o sacerdócio e “são vistos com desprezo”, migrantes e refugiados. E ele diz aos padres: “Por favor, sejamos próximos das pessoas”.

É claro que um livro de entrevista não se alça a grandes vôos literários, mas pode ser altamente esclarecedor. Relevando a má formulação que por vezes pratica o entrevistador, este volume é um ótimo guia sobre o pensamento deste tão admirável Papa Francisco, o papa da “Igreja em saída”.

 

Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2021.