Eleitos de Deus - RC Sproul
Não espero ser um arauto de doutrinas em que não posso colocar minha fé, não por elas serem falsas, mas por não conter toda a verdade, ao mesmo tempo que não defenderei outra por ser a visão oposta à está; pois ambas contem expressões verdadeiras, como diria Spurgeon no sermão “agradou a Deus” de 19 de outubro de 1862: “existe alguma verdade no Calvinismo e alguma no Arminianismo, e aquela que mantém toda a verdade de Deus não deve ser limitado por um só sistema nem preso pelo outro, mas levar a verdade onde quer que ele possa encontrar na Bíblia” há verdade tanto no Calvinismo quanto no Arminianismo, e que não devemos ir a nenhum extremo.
Recentemente li um livro que leva o título dessa resenha, Eleitos de Deus que tem 9 capítulos e 159 páginas e de autoria de RC Sproul que dispensa comentários, o livro trata sobre os 5 pontos da TULIP (iniciais dos pontos em inglês) e com uma lógica eloquente o autor tenta persuadir o leitor sobre a veracidade dessas verdades no calvinismo. Se você como eu entrou agora nesse mundo da soteriologia e diferente de mim não tem crivo e pensamento crítico, certamente saíra um calvinista convicto ao final da leitura.
O autor altera os termos e ressignifica sua compressão, mas sem mudar é claro seu sentido:
I.Total depravação por “corrupção radical” pág 78.
II.Eleição incondicional por “eleição soberana” pág 115
III.Expiação limitada por “expiação definida” pág 152
IV.Graça irresistível por “graça eficaz” pág 91
V.Perseverança dos santos por “preservação dos santos” pág 130
Fico feliz que a leitura desse livro tenha me feito conhecer outras visões opostas e, aqui então vamos começar meus pontos de discordância:
No capítulo 1 onde Sproul fala sobre A LUTA ele cita visões opostas, e ao ver os nomes celebres e seguir seu conselho de que “cujas visões são dignas de nossa cuidadosa atenção” percebi que era um arminiano mesmo sem saber e até o fim do livro me tornei convicto disso e por isso sou grato ao RC Sproul.
Quando soube que AW Tozer e CS Lewis, dois homens que eu respeitava muito não afirmava a TULIP, quis saber o que segundo Deus, os homens inteligentes como Tozer e Lewis enxergaram nas escrituras que os levou a suas conclusões.
“É a marca de uma mente educada ser capaz de entreter um pensamento sem aceitá-lo.” - Aristóteles
No capítulo 5 na página 93 que fala da graça preveniente o autor utiliza uma falácia conhecida como “pedido de inquérito” (plurium interrogationum) ou “questão complexa”. Como ele os calvinistas são famosos por perguntarem ao crente desavisado: “por que você acreditou em Cristo e outra pessoa não; você é mais inteligente ou mais louvável de alguma forma?”
Implorar a questão é uma tática de debate em que seu oponente presume que a verdade é o ponto que está em debate. Por exemplo, se a questão em disputa era se você trapaceia ou não em seus impostos e eu comecei a discussão perguntado: “você já parou de trapacear em seus impostos?” eu estaria implorando pela pergunta.
Da mesma forma, no caso do calvinista perguntado “por que você fez essa escolha”, ele está presumindo que uma resposta determinística é necessária, iniciando assim a discussão com um jogo circular e frequentemente confuso de petição de princípio.
A causa da escolha é o selecionador. A causa de uma determinação é o determinante. Não é uma determinação indeterminada, ou uma escolha não escolhida, como alguns tentam enquadrá-la. A uma função misteriosa no livre-arbítrio tanto divina quanto humana e eventualmente apelamos a isso.
Humilhação e quebrantamento não são considerados “melhores” ou “louváveis” e certamente não são inerentemente valiosos. A única coisa que torna essa qualidade “desejável” é que Deus escolheu agraciar aqueles que se humilham, algo que Ele de forma alguma é obrigado a fazer.
As linhas são minhas inimigas, quando se tornam limitadas para expor tudo o que há em minha mente sobre o livro. Talvez um vídeo sobre o tema seja necessário, em breve.
Ainda sobre o capítulo 5, por que não podemos dar a Deus toda a glória por capacitar a humanidade a responder à Sua verdade graciosa? Por que ele deve causar irresistivelmente nossa aceitação dessa verdade para que Ele receba toda a glória por dá-la? Deus não deveria receber a glória até mesmo pela provisão daqueles que O rejeitam?
Ainda há outras considerações, mas não me cabe fazer isso em poucas linhas, o livro é excelente, claro é os pontos defendidos por RC Sproul, difícil de entender? Acho que não, todo argumento tem seu contra-argumento, basta colocar sua cabeça pra funcionar. Em minhas leituras, leio como uma deliciosa conversa com o autor e muitos questionamentos prazerosos.
Como tenho que me encaixar em um rótulo para satisfazer a consciência religiosa de alguns, sou arminiano e acredito na “visão corporativa da eleição”, no capitulo 7 na página 114 o autor tentar rebater essa réplica com uma simples frase: “as nações também são feitas de indivíduos.” bem essa frase muito comum nem mesmo começa a refutar as afirmações dessa perspectiva. Os indivíduos estão tão envolvidos na perspectiva corporativa quanto na perspectiva calvinista. Poucos calvinistas dão a essa visão a atenção que ela merece, porque requer uma mudança de perspectiva que, se reconhecida, minaria toda sua premissa.
No mais, adquira essa obra e boa leitura, após ler o livro tire suas próprias conclusões.