RESENHA - CHACRINHA: A BIOGRAFIA
Depois de ler A Bossa do Lobo, biografia do compositor e produtor musical Ronaldo Bôscoli, de Denilson Monteiro, li outra do autor, agora com a parceria de Eduardo Nassife e publicada pela Casa da Palavra (que pertence à Leya, selo do livro anterior): a do saudoso apresentador de TV Chacrinha. E a experiência foi ainda melhor.
O texto é claro e envolvente. Dá vontade de ler, ainda mais no tablet. A introdução aos fatos históricos ligados à vida do biografado é rápida, sem muitos rodeios. A divisão dos capítulos não é numerada. Apenas titulada, embora haja alguns subcapítulos, intercalados com fotos do apresentador.
O livro começa em um sábado de carnaval, com o desfile de Chacrinha pelo Jardim Botânico até o Teatro Fênix, para apresentar o seu primeiro programa na sua volta à Rede Globo, de onde havia saído brigado com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho.
José Abelardo Barbosa de Medeiros nasceu em Surubim, em 1917, pequena cidade do interior de Pernambuco, filho de Antônio de Medeiros e Aurélia Barbosa. Em busca de melhores oportunidades, seus pais se mudaram para Caruaru e o levaram num cesto pendurado em um jegue, aos seis meses de vida. Depois foi morar em Campina Grande, Paraíba. Voltou para Caruaru, foi estudar medicina em Recife até se estabelecer no Rio de Janeiro.
A sua carreira de locutor de rádio começou em Recife, mas foi em Niterói que Abelardo se revelou para o país. Em uma chácara em Icaraí, Niterói, onde ficava a sede da Rádio Club Fluminense, tocando músicas, entrevistando convidados e fazendo a sonoplastia de roletas e crupiês, ele simulava um cassino. O Cassino da Chacrinha. Detalhe: ele apresentava só de cueca e lenço na cabeça, enquanto os ouvintes imaginavam que ele estava de smoking, no meio de gente igualmente bem vestida. Assim nasceu o seu apelido. Com o sucesso ele se transferiu para a Rádio Guanabara, mas logo voltou para a Club Fluminense.
Chacrinha também atuou pelas rádios Tupi, Tamoio, Record (em São Paulo), Nacional e Globo. Na televisão começou na Tupi, no programa Rancho Alegre. Assinou colunas em jornais e revistas impressos. Passou também pela TV Rio, Excelsior, voltou para a Rio, em seguida para a Globo, Tupi mais uma vez, Record e Tupi e Bandeirantes, estas três em São Paulo, e de volta à Globo, onde foi apresentar, até morrer, em 1988, o Cassino DO Chacrinha, aos sábados à tarde, na faixa de horário que hoje é do Caldeirão do Huck, para situar os mais jovens que não o conheceram.
Também teve na TV os programas Discoteca do Chacrinha e A Hora da Buzina, no qual eliminava aspirantes a cantores desafinados ao som do instrumento. Para dar mais audiência, alguns candidatos sem talento eram propositalmente selecionados. Em algumas emissoras apresentava os dois programas simultaneamente. O Cassino só foi usado na televisão na sua última passagem pela Globo.
Além de detalhar toda a sua carreira, o livro também mostra, brilhantemente e de forma cronológica (com exceção do primeiro capítulo), a sua vida fora dos microfones, como o seu casamento, filhos, a sua busca por patrocínios para bancar os seus programas (que ele conseguia graças à sua boa comunicação), a amizade com o dono das Casas da Banha (supermercado que patrocinou o seu programa até o fim), a origem do seu costume de jogar bacalhau e café no auditório, dos seus bordões rimados (como Terezinha, criada para substituir a antiga patrocinadora, a água sanitária Clarinha), a origem da sua mais famosa frase (Quem não se comunica se trumbica), a sua convivência com as Chacretes e jurados do seu programa, a disputa (por vezes, desleal e suja) por audiência e atrações com Flavio Cavalcanti e momentos dramáticos, como o acidente que deixou seu filho Nanato Barbosa tetraplégico.
Mesmo quem não gostava da irreverência do Velho Guerreiro vai sentir empatia por ele. Dou nota máxima para o livro e já estou ansioso para ler a biografia do Carlos Imperial, também do Denilson Monteiro.