Resumo do capítulo “Literatura e cultura de 1900 a 1945”, pertencente ao livro “Literatura e Sociedade”, de Antonio Candido

Antonio Candido inicia seus apontamentos no subcapítulo “1” afirmando que o que se tem realizado de mais perfeito como obra e como personalidade literária representa os momentos de equilíbrio ideal entre a experiência literária e espiritual, havendo uma tensão entre um dado local (substância da expressão) e os moldes herdados da tradição europeia (forma de expressão), tratando-se de um processo dialético.

Nesse sentido, Candido ressalta o “diálogo com Portugal”, que é umas das vias de tomada de consciência da nossa personalidade nacional, da diversidade brasileira, que se matura lentamente. De acordo com o autor, a fase culminante da nossa autoafirmação, a Independência política e o nacionalismo literário do Romantismo, processa-se pela negação dos valores portugueses e uma atitude de rebeldia, autoconfiança, autodefinição e diferenciação brasileira, fazendo cessar a influência de Portugal.

No subcapítulo seguinte, o “2”, Candido expõe que, na literatura brasileira, há dois momentos decisivos que mudam os rumos e representam o particularismo literário na dialética do local e do cosmopolita: o Romantismo do século XIX e o Modernismo do século XX. Entretanto, Candido alega que enquanto o primeiro procura superar a influência portuguesa, o segundo já desconhece Portugal.

Além disso, Candido salienta que a literatura brasileira do século XX é dividida em três etapas: 1900 a 1922, 1922 a 1945 e 1945 em diante, integrando o período em que ainda vivemos. O autor revela que, na primeira etapa, há a literatura de permanência, a qual conserva e elabora os traços desenvolvidos depois do Romantismo; há o academismo, o qual busca pelo equilíbrio e a harmonia pela cópia da Europa, encarando com os olhos europeus as nossas realidades mais típicas e exaltando um sentimento de condescendência através do gênero “conto sertanejo”.

Nesse contexto, Candido cita que a obra "Os sertões", de Euclides da Cunha, publicada em 1902, não corresponde aos interesses dos homens do interior do Brasil; e que a busca de elegância mediterrânea contamina a própria exploração dos temas regionais. De acordo com o autor, diferentemente do período de 1880 a 1900, há, na primeira etapa do século

XX, um conformismo e o esgotamento da crítica nacionalista.

Subsequentemente, no subcapítulo “3”, Candido expressa que a Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo é o catalisador da nova literatura, coordenando tendências capazes de renovação, esgotando o idealismo simbolista e o Naturalismo convencional. Ademais, profere que o Modernismo rompe com as duas tendências, inaugurando um novo momento na dialética do universal e do particular; rompe com o estado de coisas, desmistificando a ideia de que tudo aqui é belo e risonho ao acentuar-se a rudeza, os perigos e os obstáculos da natureza tropical.

Dessa forma, Candido aponta que o mulato e o negro são definitivamente incorporados como temas de estudo, exemplo, inspiração; que um certo número de escritores se aplica a mostrar nossa diferença perante a Europa, manifestando com autenticidade um país de contrastes, onde tudo mistura-se.

Para mais, Candido afirma que essa expansão da arte e do pensamento brasileiro, a redefinição cultural desencadeada em 1922, coincide com a radicalização posterior à crise de 1929 e a instauração do Estado Novo ditatorial, explicando que o decênio de 1930 reverbera traços pós-guerra e progresso econômico, com direita e esquerda política, populismo literário, laicismo, libertação nos costumes, formação da opinião pública, etc. refletindo na literatura.

Em seguida, no subcapítulo “4”, o autor destaca que, depois de 1940, ou pouco antes, percebe-se a constituição de uma nova fase. Nos dois decênios de 1920 e 1930, assiste-se a uma literatura que participa nos problemas gerais do momento e é fiel ao local. Já a partir de 1940, há um certo distanciamento ao local. Até 1945, vê-se uma produção intensa, favorecida pelo grande surto editorial. Desenvolve-se a separação abrupta entre a preocupação estética e a preocupação político-social.

Também, Candido aduz que, em poesia, as melhores vozes ainda vêm de antes; reitera que, para quem lê com atenção, a poesia brasileira desses últimos anos impressiona pelo pouco que tem a dizer, prendendo-se ao passado e possuindo pouca personalidade e menor ressonância humana.

Adiante, no último subcapítulo, o “5”, Antonio Candido traz algumas considerações sociológicas sobre a função da literatura na cultura brasileira e sua posição atual. Traduz que as melhores expressões do pensamento e da sensibilidade têm quase sempre assumido, no Brasil, forma literária; que, diferentemente do que acontece nos outros países, a literatura daqui centraliza a vida do espírito e não tão somente a filosofia e as ciências humanas. Argumenta que, ao focalizar-se não mais o ritmo estético da nossa literatura, mas o seu ritmo histórico-social, pode-se defini-la como literatura de incorporação que passa à literatura da depuração.

Ademais, Candido exemplifica que a longa soberania da literatura no nosso país tem duas ordens de fatores: os derivados da nossa civilização europeia e outros propriamente locais. Dentre os fatores locais, tem-se a ausência de iniciativa política implicada no estatuto colonial, o atraso da instrução e a fraca divisão do trabalho intelectual.

Por conseguinte, Candido relata que a obra "Os sertões" assinala o fim do imperialismo literário e o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira. Assim, o Modernismo, segundo Candido, representa um esforço brusco e feliz de ajustamento da cultura às condições sociais e ideológicas que vêm em lenta mudança desde o fim da Monarquia.

Outrossim, transmite que esse movimento cultural brasileiro entre duas guerras coopera com outros setores da vida intelectual no sentido da diferenciação das atribuições e, de outro lado, da criação de novos recursos expressivos. Testemunha-se, na visão do autor, o fim da literatura tradicional; presencia-se a formação de padrões literários mais puros e voltados para a consolidação de problemas estéticos e não mais sociais-históricos, com novos meios expressivos mais ou menos ligados à vida social e com maior público.

Nessa perspectiva, Antonio Candido finaliza abordando que existem dois perigos: a literatura como presa fácil da não-literatura e a separação da literatura da vida e seus problemas. Propõe, como solução, a redefinição das relações do escritor com o público em face dos novos valores de vida e de arte que devem ser extraídos da substância do tempo presente.