Ira sagrada
IRA SAGRADA
Miguel Carqueija
Resenha do livro “A ira sagrada”, de Michel de Saint-Pierre. Livraria Clássica Editora, Lisboa-Portugal, Coleção Orbe nº 34, 1966. Tradução: Jorge de Sampaio. Título original francês: “Saint colère”. Éditions dela Table Ronde, 1966.
Com um estilo muito pessoal e intimista, lembrando um pouco o brasileiro Gustavo Corção, o autor traça um panorama angustiante do ambiente católico na França nos anos 50 e 60, através e após o Concílio Vaticano II. Apresentando a título de introdução pequeno e valioso texto de Paulo VI, Saint-Pierre refere-se aos tremendos estragos provocados pela infiltração marxista no clero, nas publicações católicas, nos movimentos ditos católicos. Pior, os católicos fiéis passaram a ser atacados com acusações cheias de ódio e caluniosas, como se os católicos conservadores (leia-se: católicos dignos desse nome) é que fossem rebeldes e contrários ao Concílio. Muitas das críticas a Saint-Pierre foram por causa de seu romance “Os novos padres”, que eu não conheço mas que, pela leitura de “A ira sagrada”, percebe-se que aborda o tema da degeneração do clero, com sacerdotes que se tornam socialistas, que abandonam a espiritualidade, que atacam o Papa e a Hierarquia.
Nomes conhecidos de resistentes da causa católica aparecem aqui mencionados, como Jean Madiran, Edith Delamare e o Padre Daniélou, personalidades que Gustavo Corção, em seus brilhantes artigos, costumava citar.
Saint-Pierre menciona estas palavras de Paulo VI, que hoje é reconhecido como santo:
“Constata-se um relaxamento na observância dos preceitos que a Igreja, até ao presente, propôs para a santificação e dignidade dos seus filhos. Certo espírito de crítica, e por vezes até de indocilidade e rebelião, põe em discussão normas sacrossantas da vida cristã, do comportamento eclesiástico, da perfeição religiosa”.
Essa anarquia religiosa atingiu o Brasil e muitos outros países. O curioso é que o Concílio foi conservador, mas foi usado como pretexto para as loucuras promovidas pelos padres “progressistas”, aspas necessárias porque essa turma não é progressista, é retrógrada.
A coisa avançou a tal ponto que sacerdotes e leigos aliaram-se a comunistas declarados, como Roger Garaudy, defenderam o socialismo e o comunismo, elogiaram o regime da China Vermelha ignorando solenemente a “Igreja do Silêncio” e seu sofrimento.
A narrativa de Michel de Saint-Pierre é emotiva, sofrida. O autor sofre com os ataques, as mentiras, a falta de caridade da esquerda, mesmo quando ela usa batina. Quando usa, é claro.
Em suma, um notável libelo contra as garras do socialismo, que penetraram profundamente na Igreja Católica em França, dando ênfase especial ao drama dos padres que voltaram da Argélia após a guerra de independência desta e, apelidados de “pés pretos”, foram abandonados pelo clero francês, inclusive a hierarquia. Mas a França é também o país onde os verdadeiros católicos se organizaram para resistir ao fascismo vermelho e denunciar os seus erros monstruosos.
Obra imperdível.
Rio de Janeiro, 9 de setembro de 2021.
IRA SAGRADA
Miguel Carqueija
Resenha do livro “A ira sagrada”, de Michel de Saint-Pierre. Livraria Clássica Editora, Lisboa-Portugal, Coleção Orbe nº 34, 1966. Tradução: Jorge de Sampaio. Título original francês: “Saint colère”. Éditions dela Table Ronde, 1966.
Com um estilo muito pessoal e intimista, lembrando um pouco o brasileiro Gustavo Corção, o autor traça um panorama angustiante do ambiente católico na França nos anos 50 e 60, através e após o Concílio Vaticano II. Apresentando a título de introdução pequeno e valioso texto de Paulo VI, Saint-Pierre refere-se aos tremendos estragos provocados pela infiltração marxista no clero, nas publicações católicas, nos movimentos ditos católicos. Pior, os católicos fiéis passaram a ser atacados com acusações cheias de ódio e caluniosas, como se os católicos conservadores (leia-se: católicos dignos desse nome) é que fossem rebeldes e contrários ao Concílio. Muitas das críticas a Saint-Pierre foram por causa de seu romance “Os novos padres”, que eu não conheço mas que, pela leitura de “A ira sagrada”, percebe-se que aborda o tema da degeneração do clero, com sacerdotes que se tornam socialistas, que abandonam a espiritualidade, que atacam o Papa e a Hierarquia.
Nomes conhecidos de resistentes da causa católica aparecem aqui mencionados, como Jean Madiran, Edith Delamare e o Padre Daniélou, personalidades que Gustavo Corção, em seus brilhantes artigos, costumava citar.
Saint-Pierre menciona estas palavras de Paulo VI, que hoje é reconhecido como santo:
“Constata-se um relaxamento na observância dos preceitos que a Igreja, até ao presente, propôs para a santificação e dignidade dos seus filhos. Certo espírito de crítica, e por vezes até de indocilidade e rebelião, põe em discussão normas sacrossantas da vida cristã, do comportamento eclesiástico, da perfeição religiosa”.
Essa anarquia religiosa atingiu o Brasil e muitos outros países. O curioso é que o Concílio foi conservador, mas foi usado como pretexto para as loucuras promovidas pelos padres “progressistas”, aspas necessárias porque essa turma não é progressista, é retrógrada.
A coisa avançou a tal ponto que sacerdotes e leigos aliaram-se a comunistas declarados, como Roger Garaudy, defenderam o socialismo e o comunismo, elogiaram o regime da China Vermelha ignorando solenemente a “Igreja do Silêncio” e seu sofrimento.
A narrativa de Michel de Saint-Pierre é emotiva, sofrida. O autor sofre com os ataques, as mentiras, a falta de caridade da esquerda, mesmo quando ela usa batina. Quando usa, é claro.
Em suma, um notável libelo contra as garras do socialismo, que penetraram profundamente na Igreja Católica em França, dando ênfase especial ao drama dos padres que voltaram da Argélia após a guerra de independência desta e, apelidados de “pés pretos”, foram abandonados pelo clero francês, inclusive a hierarquia. Mas a França é também o país onde os verdadeiros católicos se organizaram para resistir ao fascismo vermelho e denunciar os seus erros monstruosos.
Obra imperdível.
Rio de Janeiro, 9 de setembro de 2021.