A VELHICE - MORTE EM VENEZA
A VELHICE
Como nos disse Simone de Beauvoir, a velhice não é um fato estático, mas o término e o prolongamento de um processo.
É impressionante como as pessoas fogem dessa fase . Negam idade , sempre para menos , na minha família falar de idade era caso de ofensa, eu por exemplo tenho um amigo que nunca passou dos 60 anos ( risos) .
Alguns se enchem de Botox ou cirurgias plásticas que mudam pra pior sua expressão facial natural, ficam com cara de boneca e não conseguem fechar direito a boca . Dá pra saber de longe que esticou as rugas diante de uma face sem expressão. Tenho outros amigos que de 15 em 15 dias rigorosamente, tingem o cabelo ...... se tiver muito quente , olha a vergonha , que mico , a tinta escorre ao lado da ¨zoreia¨.
Fazem exercícios já não próprios para a idade e de vez enquando, " tibuco", se espatifam no chão da academia ou do banheiro de casa , com um ataque cardíaco fulminante. Sem falar nos que tomam estimulantes sexuais a esmo e saem por ai contando vantagem de sua virilidade .
Tive um amigo que morreu, coitado, numa cama redonda de um motel. Ledo engano , depois dos 60 a performance sexual sempre será decepcionante, mas sonhar não faz mal a ninguém. É, caro amigo, depois dos 60, você queira ou não começará a ficar broxa. Me engana que eu faço de conta que acredito para não ferir teu orgulho machista.
As pessoas e alguns familiares já não tem muito saco de conversar com você e perdem a paciência bem ligeirinho e se não precisarem de alguma ajuda financeira , a paciência foi-se. Talvez seria o melhor lugar para um velho rabugento... um asilo? E se tiver herança no meio, olha, depois da missa do sétimo dia a coisa fica feia.
Como é difícil a senectude. Por isso quero virar cinzas antes desse lero-lero.
Dr. Luiz Cesar Nogueira de Carvalho
Médico ginecologista e ultrassonografista
Escritor, poeta, pianista e estudioso de filosofia
MORTE EM VENEZA
Esse comportamento humano de querer ficar eternamente jovem na velhice, com variados recursos artificiais de maquiagem, cirurgias, etc... , se enquadra no que podemos chamar de condição trágica do homem.
O romance que retrata de forma genial essa condição é ¨Morte em Veneza¨ de Thomas Mann, levado magistralmente às telas pelo cineasta italiano Luchino Visconti, contemporâneo de Vittorio De Sica e Roberto Rossellini.
No filme Visconti foi criticado por ter mudado a profissão artística do personagem (idoso) Aschenbach, que no romance era escritor e na película virou compositor. Entretanto, manteve no filme, a estranha atração que ele sentia pelo jovem Tadzio, adolescente andrógino, de origem polonesa, que passa férias com a família.
O compositor vê no garoto a mais perfeita representação da beleza, um tipo de beleza ideal que o artista sempre buscou alcançar em suas obras. Muitos confundem essa atração como uma forma vulgar de homossexualidade.
No final ele morre sentado na praia com o olhar perdido para o mar, o sol em sua face fazendo escorrer a exagerada e ridícula maquiagem qua usava para tentar parecer jovem pro seu admirado... uma das cenas mais impactantes e reflexivas do cinema.
Vale a pena ler e assistir.
Marco Antônio Abreu Florentino