A teus pés
Reli estes dias o livro de Ana Cristina César, A Teus pés. Editora Brasiliense 1982
É bem pequeno no formato e também no número de páginas, pouco mais de 100. Gosto muito de alguns textos, outros me tocam menos, ou não entendendo, sei lá. Um dos meus preferidos é este:
Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas.
Mas há outros, mais longos e que me dá preguiça de digitar agora. Foi interessante reler este livro pelo que ele oferece, entretanto, fora da leitura, o que me ocorreu foi uma reflexão sobre este volume que está aqui comigo. Ele me foi oferecido por uma antiga colega de faculdade, éramos amigas também...estávamos tentando uma amizade, acho. Faz muito tempo já. Mas o livro não me foi oferecido assim como um presente ‘normal’, na verdade ela tinha recebido de presente de uma ex amiga e, como tinham se desentendido feio ela não quis conservar o livro, repassou. Ainda tem aqui a dedicatória que a ex amiga escreveu para ela, um texto ingênuo, mal escrito, mas com ar de sinceridade, de admiração pela pessoa a quem está oferecendo o livro.
Minha amiga e eu nos desentendemos também no final das contas, isso deve ter sido lá pelo ano de 2016, nunca mais nos falamos, eu voltei para a Europa com (licença, Bolsonaro) ‘a cabeça cheia de problemas’ (não por causa dela, problemas maiores) e me voilà, tantos anos depois percebo que pouco pensei no assunto. O livro eu não repassei. Nossa amizade não tinha se solidificado, é verdade. É estranho pensar no caminho de um livro, não é?