São Bernardo - Graciliano Ramos
Ramos, Graciliano. São Bernardo; posfácio de Godofredo de Oliveira Neto. 98ª ed- Ed. Revista - Rio de Janeiro. Record, 2016.
Publicado em 1934, São Bernardo é o segundo romance de ficção do autor, retrata a questão fundiária e os conflitos sociais no Nordeste Brasileiro. Segundo Godofredo de Oliveira Neto, no Posfácio do livro, a obra acaba por afirmar Graciliano Ramos como um dos grandes romancistas de literatura brasileiro.
Em uma linguagem escrita, bem próxima da falada, a história se passa na década de 30, onde Paulo Honório, narrador-personagem, em seus cinquenta anos de vida, procura revisitar seus dramas e conflitos internos até o momento em que o livro era escrito, com certas coisas permanecendo inexplicáveis.
Nem a fazenda a São Bernardo que comprou por um preço irrisório, nem a professora Madalena, a quem contratou para alfabetizar as crianças de seu empreendimento rural, com quem depois se casou, deram-lhe a paz que tanto desejava. Os fatos e os tempos não voltam mais.
Há uma constante transição entre o passado e o presente na narrativa já que o narrador é também o destinatário da história que tenta reeditar.
O primeiro capítulo expressa o conflito entre a capacidade do autor de realizar a obra do livro e a sua realização da escrita.
Já no capítulo dezenove, o narrador encontra-se num estado clínico de delírio em que sua narração mais parece um relato psiquiátrico, segundo Godofredo.
Paulo Honório tenta reagir, procurando reestabelecer a diferença entre sonho e realidade.
Está aparentemente calmo, sentado à mesa e sem movimentos. O corpo está inerte, porém, sua imaginação continua em pleno movimento.
Elementos como ciúmes e a zoomorficação são muito presentes no texto, além da questão corporal em sua auto-valorização e desvalorização no decorrer do enredo.
Pertencente a geração de 30, cujos autores acreditavam que com a arte poderia se transformar a estrutura social, Graciliano Ramos julgava ser indispensável viver de perto a realidade desse miserável para poder falar de seu ponto de vista e São Bernardo é o experimento estético dessa busca.