Casta: as origens de nosso mal-estar, Isabel Wilkerson

“Age, pois, no sentido de tratar a humanidade, seja na tua própria pessoa ou na de qualquer outro, em todo caso também como um fim, nunca apenas como um meio.”

(KANT)

Pretende-se resenhar a obra em pauta criticamente mediante intertextos filosóficos e literários. O livro em questão soma 460 páginas e foi escrito em época de pandemia internacional motivada pelo vírus oriundo de Wuhan, na China.

A autora se propôs a comparar as estratificações sociais existentes nos Estados Unidos da América, na Índia e na Alemanha de Hitler. O texto é aberto com a metáfora do homem na multidão a se negar à saudação germânica de praxe à época do nazismo.

Wilkerson afirmou que escreveu não porque queria, mas porque precisava compreender a legislação segregacionista. Para entender a estratificação social, sua ancestralidade e a realidade estadunidense, teceu digressões com o sistema de castas hindu e com o surgido na Alemanha após ascensão de Hitler.

A obra é tanto quanto intimista. A autora confessa ter assistido à primeira aula de casta com os pais, muito embora nunca tenham utilizado especificamente essa palavra. Sobreviveram à legislação segregacionista e prosperaram apesar dos óbices em seus caminhos.

Em sete seções, seu projeto pretendeu entrelaçar abordagens e percepções múltiplas (antropológicas, sociológicas, psicológicas, filosóficas, históricas e da ciência política). Não trata do racismo em si, mas dos paralelos entre a legislação segregacionista norte-americana e aspectos do Terceiro Reich.

De fato, é preciso ver e enxergar além das verdades abraçadas pela massa política para refutar qualquer discurso de ódio, a começar, pelo paradoxal ódio do bem. Na modernidade (nada) reflexiva, paradigmas considerados politicamente corretos são ovacionados insolitamente.

O marxismo cultural, principalmente no meio acadêmico hoje, consubstancia estereótipo difícil de ser confrontado. As construções de narrativas em prol de “verdades” ofuscam diversos atores sociais. Nunca foi tão necessário agir como ser pensante. Urge vivificar a lição do homem na multidão. Resistir - com bravura - ao autoritarismo de toda ordem. Como diria Simone de Beauvoir na obra Balanço Final, aprender a resistir sem se deixar esmagar.

Isabel Wilkerson, logo nas palavras iniciais, apela à importância de superar medos e o desconforto da ridicularização (escárnios). Para ela, a ideia de raça segrega pessoas. Propõe, então, reflexões sobre classes, sotaques… O conceito de casta abordado é complexo e abrange elementos psicológicos. A seu ver, caso inexista conciliação de interesses, o futuro da humanidade será incerto. "Feedback" positivo do texto: é preciso ser quem se é corajosamente.

A partir dessa deixa, tecendo olhar crítico da leitura com as lentes pandêmicas atuais, nações com pretensões hegemônicas mesclam, de modo perverso, o imperialismo (tão criticado pelos comunistas/socialistas) ao marxismo mais brutal. O cenário atual é extremamente difícil e de muita provação ante a cegueira geral deliberada.

Autoafirmada esquerda planetária clama por empatia. O mundo parece ter descoberto só agora o vocábulo. Alegação useira e vezeira: o grande problema humano consiste na divisão do homem por grupos. Contudo, não hesita em desqualificar quem pensa diferente.

No Brasil, cadê a empatia alegada? “Brincam” de futebol com bola inspirada na almejada cabeça presidencial metaforicamente ensanguentada. Aspiram à morte dos opositores, difundem o paradoxal “ódio do bem”.

Na comissão parlamentar de inquérito (CPI) de 2021, por exemplo, cuja bandeira seria investigar a crise da saúde brasileira, como se não bastasse o circo de horror instalado, houve cabal desrespeito a médicas chamadas a prestar esclarecimentos sobre o caos da saúde pública – como se esta já não encontrasse em colapso há tempos.

Nise Yamaguchi e Maíra Pinheiro, que têm histórias profissionais impecáveis, foram vítimas de escárnio por parte de membros da CPI. As atitudes intimidatórias são assaz significativas (“machismo do bem”). Com a palavra, o movimento feminista internacional e a imprensa mundial.

Nesse diapasão, muito cuidado com políticas invasivas do proclamado progressismo, com a dependência patológica e com a disseminação do conflito social intergeracional.

Não raro, se se discorda de alguma evidência, incontinenti, erige alegação de imprecisão ou distorção da informação e censura via agências de “checagem”. Dolosamente, olvidam códigos morais a serviço da cooperação. Desvalorizam a vida humana sob o mantra de proteção aos animais até. Finalmente, como diria Santo Agostinho, há que se buscar sempre a verdade. Pela razão ou pela fé. Que não falte discernimento!

Referência

WILKERSON, Isabel. Casta: as origens de nosso mal-estar. 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

Professora Ana Paula
Enviado por Professora Ana Paula em 04/09/2021
Código do texto: T7335070
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.