[Resenha] O Gigante Enterrado, de Kazuo ishiguro
Resenha de 'O Gigante Enterrado', de Kazuo Ishiguro.
Ou, memória, guerra e amor numa fantasia quase nada fantasiosa.
enredo:
Na Grã-Bretanha do lendário Rei Arthur, um casal de idosos toma uma importante decisão: ir até a aldeia do filho que não veem há muito tempo. Mas como, se há essa coisa no ar que os impede de lembrar onde o filho mora, como ele é, o que faz, por que está tão longe? Em uma viagem por locais inóspitos habitados por criaturas perigosas e por figuras suspeitas, o casal de idosos segue adiante, rumo, sem saber, ao Gigante Enterrado.
(possíveis) pontos positivos:
- tipo um spin off da Lenda do Rei Arthur;
- mistura elementos de fantasia (ogros, feitiços e afins), mas sem descambar para o fantasioso comercial e apelativo;
- um subtexto rico e sóbrio a respeito das consequências da memória (ou da falta dela) sobre o amor e a guerra;
- traz vários pequenos convites para interpretações metafóricas da coisa toda.
(possíveis) pontos negativos:
- é um enredo sem pressa;
- as tramas paralelas custam a convergir para o conflito central;
- há espadas, há guerreiros, há monstros, mas há um quase nada de ação;
- narrador em terceira pessoa que meio aleatoriamente aparece para conversar com o leitor;
- lacunas e pontas soltas que, apesar de intencionais, desagradam quem busca histórias mais redondinhas.
o que mais impressionou:
apesar de trabalhar com temas tão batidos como guerra e amor, a história os expõe numa trama de conflitos e contradições da qual é difícil se sair com respostas simples - dá aquela sensação de que certo e errado, paixão e desejo, são bobeirinhas inventadas para evitar olhar o grande buraco que são a Guerra e o Amor. Memória, guerra e amor numa fantasia quase nada fantasiosa