DESPEDAÇANDO FANY - CONTOS DE BELLOTO (Claudemir "Dark´ney" Santos)

No modesto entendimento deste que escreve aqui, e dentro da lógica católica que aprendemos e manifestamos, mesmo sem querer, mesmo sem perceber, prefaciar o livro de alguém é como batizar uma criança, filha de alguma amizade privilegiada.

Não precisa discurso de padre para saber: quando o pai, a mãe ou seja lá quem exerça a tutoria sobre essa criança, convidou você para batizar, delegaram uma responsabilidade, um querer que você contribua na educação, nos cuidados, na atenção. E mais: também é um gesto que retroalimenta uma troca de confianças. Como na história da raposa, “você se torna responsável por conta dessa confiança” e, complementarmente, a você é confiado porque, em tese, já tem alguma responsabilidade, mesmo que difusa, mesmo que distante, sobre essa relação de amizade (mesmo que otimizada por algum interesse) e, consequentemente, a criança.

Prefaciar um livro me parece muito isso também. Quem faz essa solicitação parece estar argumentando que tem certeza de que você irá gostar do livro em formação, e ao mesmo tempo, confia que você irá conseguir “vender” essa ideia do gostar para outras pessoas. Não deixa de ser, também, um elogio à sua sensibilidade e inteligência. Mas, por favor, desconfie – muito! – dessa certeza.

Alias, falando em certezas e repensando as minhas – inclusive a analogia entre prefácio e batismo toscamente enunciada aqui – não é bem assim que a coisa funciona. Cético, já fiz as honras católicas de várias crianças (algumas hoje já adultas). Sob os auspícios da igreja ou não, verdade seja, sempre dei o melhor de mim enquanto “padrinho”. Mas isso faria mesmo sem a liturgia do convite. Assim como já fiz apresentação de livro ruim e já fiz apresentação ruim de livro bom.

Não é o caso de “Despedaçando Fany – Contos de Belloto”, obra de Claudemir Darkney Santos lançada recentemente. Em meu entendimento fraterno, modesto e devoto, esta trilogia em prosa curta do Darkney foram tramadas com fios de ouro, reluzindo sem ostentação numa obra que demorou mais de uma década para ganhar esta roupagem, digamos, mais industrializada, por meio da Editora Lavra, regida pela batuta do mestre João Caetano do Nascimento. Antes, estes contos tinham sido distribuídos em formato de revista (fanzine). Se vale um spoiler sutil, uma das grandes sacadas do autor é não permitir em momento algum que você tenha certeza se os textos são ficção ou realidade. O livro está catalogado como de contos, mas, “e se?”… quem nos garante que não haverá surpresa em alguma página próxima, ou no capítulo à frente? A todo tempo, você é “transitado” de uma esfera à outra. Não por acaso, o herói da série, Belloto, nasceu em uma cidade chamada Espheras, ainda que more há muito tempo em São Miguel.

Mora? Mas então ele existe? Este é o convite que faço a você: entrar no livro para tentar dar conta cde todas as possibilidades narrativas que Darkney oferece em seu livro. Reza a lenda que mais à frente vem mais por aí…

Mas aí é outra resenha, para outras histórias e – com certeza – outra alma mais talentosa prefaciando.

SERVIÇO

Livro: Despedaçando Fany – Contos de Belloto

Autor: Claudemir Darkney Santos

Gênero: Contos

Editora: Lavra (SP)

1ª edição: 2021

Páginas: 144

Publisher: João Caetano do Nascimento

Revisão: João Caetano do Nascimento e Darkney

Arte: Manogon