LYONS, Jonh. As idéias de Chomsky. Tradução de Octanny Silveira da Mota e Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix, 1970.
LYONS, Jonh. As idéias de Chomsky. Tradução de Octanny Silveira da Mota e Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix, 1970.
Publicado em 1970, As idéias de Chomsky de Jonh Lyons chega ao Brasil pelas mãos dos tradutores Octanny Silveira da Mota e Leônidas Hegenberg. Logo foi aceito pela comunidade acadêmica e hoje, 35 anos depois, ainda é instrumento de divulgação dos conhecimentos lingüísticos da Escola Gerativa desenvolvidos por Noam Chomsky. Embora não seja mais publicado pala editora Cultrix, o livro permanece nas Faculdades de Letras de todo país como fonte básica de estudos, para os alunos iniciantes dos cursos de Letras, da escola lingüística americana que se denomina Gerativismo. O livro centra seu enfoque na figura de Chomsky, criador dessa perspectiva lingüística, que ganhou notoriedade com a publicação de Sytactic Structures de 1957.
Avram Noam Chomsky nasceu na Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos no dia 7 de dezembro de 1928. Judeu, sempre foi engajado em questões políticas sendo hoje um dos maiores críticos da política americana de Bush. Contudo nosso interesse é no campo da Lingüística e foi nesse campo que demonstrou ser um intelectual brilhante. Sua teoria contém elementos da Lingüística Matemática, da Gramática de Port-Royal e sofreu forte influencia de seu professor na Universidade da Pensilvânia, Zellig Harris.
Suas idéias, enfoque deste livro, são descritas pelo professor da Universidade de Edinburgo, John Lyons. Por ser um livro introdutório e tratar das maiores teorias assinaladas por Chomsky, Lyons desenvolve ao longo do texto uma postura que facilita a consulta não só aos iniciantes dos cursos de Letras, como também a outros estudantes em cujas disciplinas são discutidas tópicos da teoria chpmskyana como Filosofia, a Psicologia, a Ciência da Computação, podendo deduzir disto a abrangência e a importância de que o livro se reveste.
Quanto aos tradutores, cabe colocar a credibilidade que representa as figuras de Octanny Silveira da Mota e Leônidas Hegenberg. Ambos intelectuais brasileiros que conquistaram confiabilidade com as diversas traduções que realizaram em conjunto. Ambos foram professores do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e lecionaram na PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Com destaque para Hegenberg que publicou vários livros sobre Lógica e Filosofia das Ciências.
As idéias de Chomsky foram divididas em 10 capítulos, contendo um prefácio e uma pequena nota bibliográfica sobre a vida do lingüista que fundou uma nova maneira de ver os fatos lingüísticos. O prefácio tem uma observação muito importante que orientou a construção do texto: a revisão realizada pelo próprio Chomsky que leu e comentou o manuscrito do livro, sendo que em alguns capítulos chegou a corrigir alguns questionamentos da base teórica.
Os dois primeiros capítulos tratam, respectivamente, de uma introdução que orienta o leitor sobre os objetivos do texto e delimita o assunto que será tratado nas páginas seguintes e um pequeno capítulo sobre as posições e objetivos da Lingüística moderna onde fica definido o que é a Lingüística e sua autonomia em relação às outras ciências.
Os capítulos 3 e 4 são importantes para fundamentar os seguintes (5,6 e 7) que tratarão dos modelos teóricos discutidos por Chomsky em Syntactic Structures, pois traçam o contexto histórico anterior ao Gerativismo nos Estados Unidos e as metas da atual Teoria Lingüística. Os bloomfieldianos (cap. 3) discorre sobre a história da ciência da linguagem na América do Norte centrada em seus três maiores teóricos: Franz Boas, Edward Sapir e Leonard Bloomfield, com destaque para este último, já que foi decisiva sua contribuição para a definição dos rumos que os estudos lingüísticos tomariam nas próximas décadas. No capítulo que trata das metas da Teoria Lingüísticas (cap. 4), Jonh Lyons discute os fundamentos principais da teoria chomskyana como a dicotomia competência versus desempenho e as noções de “intuição” e “criatividade”. É aqui que Lyons assevera a contribuição mais original e possivelmente a mais sólida emprestada por Chomsky à Lingüística: a precisão e o rigor matemáticos postos na formação das propriedades de sistemas alternativos de descrição gramatical.
Os capítulos 5,6 e7 tratam das três propostas de descrição gramatical examinadas em Syntactic Structures de 1957. No capítulo 5 nos é apresentada a gramática de estados finitos que concebe o enunciado como uma seqüência de elementos que se organizam da esquerda para a direita, em que o falante realiza escolhas de elementos lingüísticos conforme suas potencialidades em preencher espaços na frase. Tal modelo de descrição, porém, e´limitado já que enunciados particulares não se prendem à relação associativa estipulada pela referida gramática. Por isso, ele examina seu segundo modelo (cap. 6) que é a gramática de estrutura de frase. Ela explica a formação de uma sentença pela aplicação de regras gerativas (S SN+SV, ....) que aplicadas sucessivamente suscitarão um conjunto de sucessões denominadas derivação da sentença. Contudo, ela sofre dificuldades nas transformações de frases da ativa em passivas e sua liberdade de contexto, tal problema só seria resolvido se fossem aplicadas regras transformativas (Cap. 7). Neste capítulo, Lyons analisa a dicotomia estrutura profunda versus estrutura superficial e define a gramática transformativa como a gramática que trabalha sobre o elemento inicial que gera sucessões subjacentes por força das regras de estrutura de frase. Sobre essas sucessões subjacentes operam regras transformativas, gerando, através de modificações, as sentenças da língua, representada como sucessões de palavras de palavras e morfemas.
Lyons reserva os capítulos 8 e 9 sobre as implicações psicológicas da gramática gerativa e sobre a Filosofia da Linguagem e do Espírito. Neste primeiro, mostra a posição de Chomsky quanto à Lingüística como ramo da Psicologia Cognitiva. Para ele, a importância da gramática gerativa centra-se na investigação da estrutura e tendências do espírito humano. Neste último, Lyons nos mostra que, segundo o lingüista americano, é preciso haver uma interdisciplinaridade entre a Lingüística, a Filosofia e a Psicologia. NESte capítulo fica claro a aversão que Chomsky cultivou contra o modelo behaviorista de estudo lingüístico em favor de uma visão racionalista ou mentalista da linguagem humana.
A conclusão (Cap. 10) é uma visão mais pessoal da obra de Chomsky, posto que o livro inteiro é instrumentalmente não crítico. Nele, Lyons questiona algumas posições extremadas do lingüista, no que se refere ao Behaviorismo e ao debate dos universitários lingüísticos. Ele conclui dizendo que embora a teoria gerativa nos moldes chomskyanos possa ser no futuro totalmente abandonada pelos lingüistas, o esforço que este cientista da linguagem aplicou sobre as questões da linguagem mudou nossa compreensão desses fenômenos e só por isso podemos considerar bem sucedida a “revolução chomskyana”.
Além dos pontos levantados ao longo deste texto é importante, antes de concluir, acrescentar mais três fundamental relevância. O primeiro refere-se ao tom de diálogo que o escritor mantém com o leitor ora se dirigindo a este para explicar pontos teóricos, ora para resolver possíveis dúvidas que este pode ter adquirido no processo de leitura. O segundo refere-se ao esforço quase sobre-humano que os tradutores realizaram para transformar exemplos típicos da língua inglesa em exemplos de nossa língua. Realmente é digno de louvor esse comprometimento que ultrapassa os limites da tradução. O terceiro diz respeito à crítica pálida realizada por John Lyons. Ele não questiona os principais tópicos, centrando sua crítica em questões quase irrelevantes como o problema terminológico da teoria gerativa. Falta uma explanação sobre a semântica é capaz de gerar sentenças. Embora possamos entender essa crítica pálida por dois fatores: o caráter introdutório do livro que não permite um aprofundamento crítico e a própria posição de Lyons que é claramente gerativista, incluída a revisão crítica do próprio Noam Chomsky.
Contudo este parêntese não tira a importância com que o livro se reveste na atualidade. A “revolução chomskyana” precisa ser estudada e As idéias de Chomsky pode ser a porta de entrada para este mundo fantástico da linguagem humana. O livro é a porta e cabe ao leitor decidir por entrar.
Amael Oliveira