Um policial brasileiro recente

UM POLICIAL BRASILEIRO RECENTE
Miguel Carqueija

Resenha do romance policial “Depois do Rei”, de Ribeiro Marques. Casa da Comunicação, 2020, Rio de Janeiro-RJ — edição e “copyright” autor. Prefácio de Carlos Luduvice.

Com pouco mais de cem páginas esta novela policial concentra-se, numa narrativa em primeira pessoa, no detetive particular Epaminondas Santiago, que mora em Aracaju, capital de Sergipe, e amigo da polícia local. Epaminondas já havia aparecido no jornal “Gazeta de Sergipe”.
A trama refere-se a um assassino serial que, à proporção que vai matando vítimas diversas e aparentemente sem padrão (a primeira é uma menina de dez anos), deixa uma carta de baralho no cadáver. As cartas progredirão a partir do “dez de ouros”.
Ribeiro Marques aproveita para focalizar diversos locais da Aracaju hodierna, principalmente lugares onde se come, como o Cacique Chá, onde o protagonista toma uma “Xingó” (cerveja?) e o Ferreiro do Shopping Jardins (apesar do nome deve ser lanchonete ou restaurante, pois Epaminondas pede um “Red cowboy” para relaxar, seja lá o que for isso).
O detetive tem princípios e sensibilidade, não é cínico nem metido a machão e, detalhe raro hoje em dia, reza, vai na igreja e é devoto de Nossa Senhora.
Infelizmente a técnica narrativa do autor, ainda que o enredo em si seja válido, deixa um pouco a desejar. Tem horas que a descrição de cenas é rápida demais, telegráfica, mormente na hora das refeições. Vejam só este exemplo de laconismo na página 30:


“Passei em casa, pene à parisiense no micro-ondas, um copo de vinho, banho tomado e liguei para Leidemar para sairmos.”

Apreciei tomar conhecimento desse autor, tão rara é no Brasil a ficção detetivesca.

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2021.