"O Monge" de Matthew Gregory Lewis
"O Monge" (1796) é um romance gótico escrito em apenas dez semanas pelo romancista e dramaturgo inglês Matthew Gregory Lewis, com apenas 19 anos, sendo este fortemente influenciado por Ann Radcliffe. Retrata as desventuras do respeitado monge Ambrósio, dividido entre seus votos espirituais e as tentações carnais. Sua batalha interna leva a terríveis e chocantes consequências, em meio a várias outras histórias que se entrecruzam e reviravoltas inesperadas.
Esta é uma das obras mais representativas da ficção gótica. Com uma escrita dramática e sombria mesclando fantasia e realidade, no decorrer da história temos fantasmas, bruxas, castelos em ruínas, pessoas aprisionadas sob conventos, gemidos misteriosos, torturas, sequestros, mortes macabras, rituais satânicos, cadáveres putrefatos, freiras sádicas e o próprio Lúcifer.
“O Monge” gerou bastante escândalo quando foi publicado e é fácil saber o porquê. A sexualidade, as críticas ferozes à Igreja Católica e a maldade humana retratada no romance devem ter chocado a Inglaterra do Séc. XVIII, afinal há passagens que são perturbadoras até para os dias atuais. Assim, seu romance foi considerado imoral e não recebeu elogios dos críticos, porém atraiu leitores ilustres como Mary Shelley, Nathaniel Hawthorne, Charles Baudelaire, Alexander Pushkin, Lord Byron e Marquês de Sade.
O poeta Samuel Taylor Coleridge atacou o livro na Critical Reviewde fevereiro de 1797, argumentando que suas cenas de luxúria e depravação provavelmente corromperiam os leitores. Coleridge observou ainda que O monge era um romance “que se um pai visse nas mãos de um filho, ele poderia ficar pálido”.
Apesar das polêmicas, “O Monge” foi um grande sucesso entre os leitores. A escrita de Lewis é precisa e medida, e encanta com a sua eloquência e capacidade de gerar reflexões até em diálogos simples, acerca da moral, da religião e da justiça. Assim, este não é um romance perverso, e sim uma crítica à perversão humana, sobretudo aquela resguardada pela hipocrisia da falsa moralidade e das convenções sociais, culturais e religiosas.