Anotações Literárias sobre meu livro Medicina e Literatura

*Os livros que li na infância e adolescência continuam sendo os meus maiores mestres.

* Da infância guardo mais os desenhos das galinhas de botinhas e dos Zé-Amarelinho… Jeca Tatu, que dos textos do Monteiro Lobato.

* Ao falar em livros não me refiro ao livro como forma física; é o saber, a cultura, a sucessão do conhecimento registrado e acumulado no decorrer da vida em tantas gerações.

* Ao Homem não é dada a possibilidade de ler tudo, assim como no tempo de uma vida não se é capaz de esgotar o que foi ou esta sendo escrito.

* Galeno, um dos maiores médicos da era romana, escreveu a autobiografia com mais de 80 anos, após escrever – dizem – cerca de 500 livros.

* Não sei, ser velho traz alguma vantagem; Sócrates preferiu a morte por cicuta a ficar velho.

* Pouquíssimos são os escritores abençoados com a capacidade de dizer e escrever as coisas mais límpidas.

* Quando assisto a debates referentes aos perigos do computador e à morte do livro, parecem-me tão pueris como quando associaram a imprensa à derrocada do saber.

* O novo sempre atemoriza as pessoas.

* Quando vejo as crianças de hoje com suas habilidades nos games dos computadores, com a coordenação motora treinada e aguçada, fico pensando se esta não seria outra forma de alfabetização, uma nova maneira de aprendizado para futuras gerações.

* O quis socrático do por quê? É hoje tão atual quanto à época em que foi proferido.

* Os ensinamentos éticos e morais permanecem os mesmos e não mudam ao sabor de princípio, presépio ou palanques, não importa se pré-armados ou arrumados.

* Não seja politicamente correto – escrever sem emoção ou para angariar simpatia da maioria ou tentar ganhar mais leitores.

* Alfabetizei-me na cartilha do tipo Ivo viu a uva, ou coisa semelhante. Dos cadernos de caligrafia, lápis de grafite, pena de molhar na tinta, caneta-tinteiro, mata-borrões, maquina de escrever, editores de textos, e o processo de escrita não mudou nada, pois a anatomia humana permanece a mesma.

* A língua portuguesa é a mais difícil do mundo. Acho-a nem mais fácil, nem mais difícil que quaisquer das outras. Para cada povo as línguas maternas são iguais nas dificuldades, pois enxergamos nela (sendo sua e que você tem obrigação de saber) os enigmas, as belezas e as armadilhas da dificuldade de falar de nós mesmos.

* Quando jovem, busquei ler tudo que me vinha às mãos numa velocidade ansiosa como se com isso conseguisse vencer a batalha contra a imensidão da minha ignorância.

* Passei a ler tão rápido que os personagens não eram pela minha mente, nomeadas e sim reconhecidos pela morfologia gráfica dos nomes.

* Dividido entre a Literatura e a Medicina, somente descansei quando uma boa alma assim me falou: “Não se preocupe, quando você tiver tempo de ler os principais jornais e revistas médicas da sua especialidade não necessitará ler mais nada… dela”.

* Diferente de outras Artes a Literatura começou com a história do Homem.

* A nouveau roman, o realismo socialista, a ficção científica, auto ajuda são estilos desenvolvidos para atender a uma demanda passageira.

*As coisas hoje devem ser escritas com simplicidade e, se possível, com certo humor. Sem humor não pode haver criatividade e muito menos leituras.

* Os escritores podem ser criativos ou não, porém têm de saber contar uma história e ter certa disposição de espírito.

* Os comentaristas e críticos literários somam mais páginas contadas sobre uma obra que o número de laudas da obra propriamente dita.

* Fala-se muito sobre um livro, quando melhor seria ter lido a obra em vez de citá-la de oitiva como faz a maioria.

* À medida que a ciência avança mais a necessidade das artes e da literatura se faz necessária.

* A própria razão nos mostra seus limites, pois sem o humanismo, a ética, a moral, a sociologia e as artes de nada valeriam os milagres trazidos pelos avanços humanos.

* Os romances ou livros escritos por médicos têm um valor maior, são confissões dos seus pacientes e de sua própria vida, pois não é dado fugir ao personagem criado.

* Medicina, antes de qualquer coisa, é conhecimento humano. E este está tanto nos livros de patologia e clínica como nas obras dos grandes escritores.

* Quer conhecer as novidades do Mundo, leia os clássicos.

* O homem é finito, a imaginação é infinita.

* A tecnologia impede de você pensar livremente.

* Tudo passou a ser tão velozmente rápido.

* Desde a mais alta antiguidade a arte literária é utilizada para o ensino da Moral e da Ética, arte mais empregada para a transmissão dos valores.

* Os precursores são sempre ultrapassados.

* Escritor não passa de um protagonista dele mesmo.

* Para se tornar um escritor é necessário ler bons textos e depois esquecer onde os leu.

* Ler muito e esquecer a vida raramente são mote para criar um Dom Quixote.

* Sem escrita não existe literatura médica nem nenhuma literatura de ciência, de ofício ou das artes e engenhos.

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*Publicação original, livro “Medicina e Literatura” disponível na Amazon.