SACUDI O PÓ DOS PÉS...
"SACUDI O PÓ DOS PÉS..." de Manuel Paulo por Edvaldo Rosa
Subitamente neste “jardim de autómatos" que é nosso mundo, se afrouxaram as cordas, e o homem inventado, histórico, fica frente a frente consigo, homem in natura e sua luta incessante por "preservação" sobre esta terra.
Diante do panorama que se avizinha, quais serão os horizontes que se abrirão?
É neste cenário que recebi um chamado transatlântico, e nele um pedido, tecer comentários sobre o novo livro de Manuel Paulo, poeta Lusófono, que está no prelo; “ Sacudi o pó dos pés”, composto de um pouco mais de duas dezenas de poemas, nascido, urdido, entalhado durante as horas soturnas deste período de pandemia.
Convite este que em princípio me causa estranhamento, após encantamento, e por fim epifania!
Estranhamento, pois Manuel Paulo fez cruzar o atlântico o olhar de sua sensibilidade, para colher impressões acerca de seu trabalho, e eis que me chega a minha porta, onde sentencia: Sacudi o pó dos pés... - Será que o poeta Manuel Paulo, a exemplo do Padre António Vieira vem falar aos peixes? -Não creio!
Encantamento é a palavra mais propícia para dar uma ideia do que a leitura de seus poemas causou em meus sentimentos, de agora!
A epifania, nítida metamorfose em meus sentidos, veio após... Com a certeza da importância da harmonia, da fraternidade.
E porque?
Por que Manuel Paulo traz na bagagem, obras lindíssimas, em que deitando os meus olhos, cheguei a sonhar, a refletir, a me espelhar… - A minha obra predileta é “Porque hoje é sábado”, embora o seu "Pontas soltas" tenha o desejo do poeta em abarcar na escrita tudo o que a ele se relaciona, e o seu "As coisas da vida, a vida das coisas", como exercício de memórias sejam atemporais.
A poesia de Manuel Paulo está sempre vestida de gala, e no que cala e no que fala mostra-se madura, límpida e clara, toca em assuntos tão graves, de uma forma tão simples, e pressupõe “soluções” que para mim caem bem… Por isso o estranhamento; Manuel Paulo, desde a muito eu “ No avesso das palavras, na contrária face da minha solidão, eu te amei” como muito bem assiná-la Mia Couto em seu poema “Amei-te sem saberes” in “Raiz de orvalho”.
O encantamento veio em seguida a reboque; pois as poesias de Manuel Paulo, neste “ Sacudi o pó dos pés” são plenas, no que instiga, no que questiona, no que aponta como questões a serem respondidas, e quando propõe possíveis respostas…
A epifania, a metamorfose que senti em mim mesmo, adveio com a certeza de que fizemos boas escolhas para a nossa relação, e as estendemos aos possíveis leitores de nossas obras; a saber: O respeito, a amizade, a fraternidade!
E é esta a proposta deste “Sacudi o pó dos pés”; através do respeito, da procura de laços de amizade, que venham a instaurar, melhor, restaurar um estado de fraternidade entre as pessoas e os seres em estado de natureza.
O livro em pauta, abre-se aos leitores com o poema “E agora?”, fina lâmina a cortar as chagas destes tempos e a colocá-las à mostra… Poema em que se colocando na posição de outros ou de quase todos, sente como sua a nossa preocupação diante do quadro de pandemia, numa atitude de respeitosa comunhão.
Segue o poema que dá título ao livro, imbuída de sonhos e de desejos… O sonho de que as letras de um poema, sejam reflexos das entranhas da alma do poeta, que somente deseja o bom, o belo e o bem! - E é também um olhar metalinguístico sobre si mesmo, enquanto poema, urdido, com sensibilidade, planejado como obra de arte, mas que se completa apenas após o olhar atento de seus possíveis leitores.
Assim, no decorrer das páginas deste livro, Manuel Paulo vai falando aos homens que redescubram o valor de suas almas, de seu coração, que abram os olhos para fitar aos outros, enquanto conclama para que outros abarquem também em seu olhar aqueles que os cercam…
E neste processo de empoderamento do ser, Manuel Paulo, com suas letras claras e ágeis, cumpre muito bem o papel da arte; elevar a outros patamares a consciência de seus leitores acerca de si mesmos e de tudo o que os cerca.
“Sacudi o pó dos pés” é para mim tudo isso, respeito, amizade, fraternidade! É também um grito potente de esperança, esperança que não se baseia numa espera de que algo aconteça, mas sim na certeza de que a atitude individual somada a de outros ou de todos pode construir um futuro mais desejável, real e menos utópico!
Fica aqui o meu convite para que outros deitem olhos sobre este “Sacudi o pó dos pés”, e tirem por si mesmos as suas conclusões… É por isso que nestas linhas não desfio comentários poema a poema, como merecem, assim chamo a todos que me façam companhia na leitura desta obra...
Eu, daqui do Brasil, desejo Fortunas ao autor e à obra, certo que estou que este "Sacudi o pó dos pés" de Manuel Paulo apresenta-se pleno de Virtudes!
E no apagar das luzes desta apresentação, deixo aqui um alinhavo; Manuel Paulo nos diz:
“No ano que começa,
qual flor,
deixemos aos seguintes
como herança,
a experiência do amor”
Eu do lado de cá do atlântico, diante desta fogueira enorme de medos e solidão, só posso deixar aqui registrado, Manuel Paulo, que no contorno das chamas destes dias encontrei o teu rosto, e isso me fez muito bem!
"SACUDI O PÓ DOS PÉS..." de Manuel Paulo por Edvaldo Rosa
Subitamente neste “jardim de autómatos" que é nosso mundo, se afrouxaram as cordas, e o homem inventado, histórico, fica frente a frente consigo, homem in natura e sua luta incessante por "preservação" sobre esta terra.
Diante do panorama que se avizinha, quais serão os horizontes que se abrirão?
É neste cenário que recebi um chamado transatlântico, e nele um pedido, tecer comentários sobre o novo livro de Manuel Paulo, poeta Lusófono, que está no prelo; “ Sacudi o pó dos pés”, composto de um pouco mais de duas dezenas de poemas, nascido, urdido, entalhado durante as horas soturnas deste período de pandemia.
Convite este que em princípio me causa estranhamento, após encantamento, e por fim epifania!
Estranhamento, pois Manuel Paulo fez cruzar o atlântico o olhar de sua sensibilidade, para colher impressões acerca de seu trabalho, e eis que me chega a minha porta, onde sentencia: Sacudi o pó dos pés... - Será que o poeta Manuel Paulo, a exemplo do Padre António Vieira vem falar aos peixes? -Não creio!
Encantamento é a palavra mais propícia para dar uma ideia do que a leitura de seus poemas causou em meus sentimentos, de agora!
A epifania, nítida metamorfose em meus sentidos, veio após... Com a certeza da importância da harmonia, da fraternidade.
E porque?
Por que Manuel Paulo traz na bagagem, obras lindíssimas, em que deitando os meus olhos, cheguei a sonhar, a refletir, a me espelhar… - A minha obra predileta é “Porque hoje é sábado”, embora o seu "Pontas soltas" tenha o desejo do poeta em abarcar na escrita tudo o que a ele se relaciona, e o seu "As coisas da vida, a vida das coisas", como exercício de memórias sejam atemporais.
A poesia de Manuel Paulo está sempre vestida de gala, e no que cala e no que fala mostra-se madura, límpida e clara, toca em assuntos tão graves, de uma forma tão simples, e pressupõe “soluções” que para mim caem bem… Por isso o estranhamento; Manuel Paulo, desde a muito eu “ No avesso das palavras, na contrária face da minha solidão, eu te amei” como muito bem assiná-la Mia Couto em seu poema “Amei-te sem saberes” in “Raiz de orvalho”.
O encantamento veio em seguida a reboque; pois as poesias de Manuel Paulo, neste “ Sacudi o pó dos pés” são plenas, no que instiga, no que questiona, no que aponta como questões a serem respondidas, e quando propõe possíveis respostas…
A epifania, a metamorfose que senti em mim mesmo, adveio com a certeza de que fizemos boas escolhas para a nossa relação, e as estendemos aos possíveis leitores de nossas obras; a saber: O respeito, a amizade, a fraternidade!
E é esta a proposta deste “Sacudi o pó dos pés”; através do respeito, da procura de laços de amizade, que venham a instaurar, melhor, restaurar um estado de fraternidade entre as pessoas e os seres em estado de natureza.
O livro em pauta, abre-se aos leitores com o poema “E agora?”, fina lâmina a cortar as chagas destes tempos e a colocá-las à mostra… Poema em que se colocando na posição de outros ou de quase todos, sente como sua a nossa preocupação diante do quadro de pandemia, numa atitude de respeitosa comunhão.
Segue o poema que dá título ao livro, imbuída de sonhos e de desejos… O sonho de que as letras de um poema, sejam reflexos das entranhas da alma do poeta, que somente deseja o bom, o belo e o bem! - E é também um olhar metalinguístico sobre si mesmo, enquanto poema, urdido, com sensibilidade, planejado como obra de arte, mas que se completa apenas após o olhar atento de seus possíveis leitores.
Assim, no decorrer das páginas deste livro, Manuel Paulo vai falando aos homens que redescubram o valor de suas almas, de seu coração, que abram os olhos para fitar aos outros, enquanto conclama para que outros abarquem também em seu olhar aqueles que os cercam…
E neste processo de empoderamento do ser, Manuel Paulo, com suas letras claras e ágeis, cumpre muito bem o papel da arte; elevar a outros patamares a consciência de seus leitores acerca de si mesmos e de tudo o que os cerca.
“Sacudi o pó dos pés” é para mim tudo isso, respeito, amizade, fraternidade! É também um grito potente de esperança, esperança que não se baseia numa espera de que algo aconteça, mas sim na certeza de que a atitude individual somada a de outros ou de todos pode construir um futuro mais desejável, real e menos utópico!
Fica aqui o meu convite para que outros deitem olhos sobre este “Sacudi o pó dos pés”, e tirem por si mesmos as suas conclusões… É por isso que nestas linhas não desfio comentários poema a poema, como merecem, assim chamo a todos que me façam companhia na leitura desta obra...
Eu, daqui do Brasil, desejo Fortunas ao autor e à obra, certo que estou que este "Sacudi o pó dos pés" de Manuel Paulo apresenta-se pleno de Virtudes!
E no apagar das luzes desta apresentação, deixo aqui um alinhavo; Manuel Paulo nos diz:
“No ano que começa,
qual flor,
deixemos aos seguintes
como herança,
a experiência do amor”
Eu do lado de cá do atlântico, diante desta fogueira enorme de medos e solidão, só posso deixar aqui registrado, Manuel Paulo, que no contorno das chamas destes dias encontrei o teu rosto, e isso me fez muito bem!