A CULPA PELA (IM)PERFEIÇÃO
As possibilidades da vida da mulher acontecem diariamente, mas lutar por seus direitos e ideais não é fácil em pleno século XXI, que dirá em séculos passados em gerações anteriores.
A culpa pela (im)perfeição faz parte do capítulo do livro “Mulheres do Século XX: A aprendizagem do feminino”, escrito pela Doutora Márcia Siqueira de Andrade e publicado em 2004, sendo resultado de sua tese de Doutorado ainda em 1998.
A obra foi escrita com intensa propriedade advinda de quase quatro anos de estudos e pesquisas da autora em que ela reuniu diversas mulheres, professoras universitárias para a compreensão de seu papel na sociedade, bem como dos relevantes desafios que são encontrados a medida que elas exercem papéis que vão além de ser donas de casas e tornam-se profissionais.
A autora proporciona reflexões acerca dos desafios que a mulher encontra para ter a sua própria autonomia de vida e de pensamento, tanto em sua vida pessoal quanto em sua vida profissional. Coloca inclusive os anseios esperados pela sociedade em que o patriarcado está no poder e quer determinar quais são os pais da mulher e que por muito tempo ficou apenas relacionados às atividades do lar.
É possível identificar já nas primeiras frases deste capítulo que a autora foi buscar seus próprios anseios e conquistar respostas pessoais, pois descreve que presenciou em sua infância um pai que saia pra trabalhar enquanto ela ficava em casa com sua irmã e mãe. Ela ansiava poder crescer para ajudar o pai, algo que ela descreve na apresentação do livro. Havia um filme chamado “Papai sabe tudo” e ela por muitas vezes mesmo que de forma inconsciente, desejava ser este que tudo sabia.
Agora pergunto a você querido leitor, quantas vezes você desejou saber tudo e ter todas as respostas? Vivemos no século XXI e ainda caminhamos rumo a autonomia da mulher tanto na sociedade e ainda é visível os pré-conceitos advindos ainda de resultados de uma sociedade em que o homem era o total provedor.
Durante todo o capítulo a autora vai descrevendo sobre os desafios das mulheres que se destacaram e o quanto a sociedade e muitas vezes a própria mulher, se exige perfeição. Ela menciona que ao falar com alunas mulheres, estas se sentem culpadas pela falta de sucesso de seus alunos. Ou seja, carregam pesos desnecessários por algo que não lhes pertencem. E, infelizmente quando alunos não conseguem aprender, as professoras são colocadas como profissionais que não exercem de forma adequada o seu papel social. Injustiça ou patriarcado disfarçado? Eis a minha pergunta como pensadora, professora, psicopedagoga clínica e autora dos meus pensamentos.
Essa obra foi escrita pela primeira vez há mais de 20 anos e ela ainda é tão real, proporcionando reflexões inenarráveis e indescritíveis para o momento atual de pandemia que estamos vivendo desde março de 2020. Muitas pessoas estão trabalhando em suas residências, mas é possível verificar que neste sentido há muitas mulheres sobrecarregadas com as tarefas do lar, do trabalho e ainda auxiliando filhos em tarefas escolares. E aí vem novamente a culpa pela (im)perfeição, a busca por algo inalcançável, o cansaço, a dúvida, a dor, as frustrações que são geradas emocionalmente e fisicamente.
Ser mulher, mãe, profissional, amiga é o que toda mulher deseja e merece ser, no entanto, não é uma busca pela competição, não é pra mostrar ao patriarcado que somos melhores, mas é luta por igualdade de direitos e pra dizer que temos voz, pensamento, que somos gente e podemos alcançar nossos sonhos e nosso espaço a medida que avançamos na sociedade.
Então, só podemos agradecer as mulheres do século XX pelo começo e que as mulheres do século XXI não recuem, pois essa luta é de todas nós. Cada voz importa e pode ser válida na sociedade e no mundo. Somos o resultado do que plantaram no passado e o futuro é o resultado das sementes que estão plantando e regando agora. Essa luta é de todas nós. Sem perfeição, apenas tendo autonomia de pensamento e autoria de vida.
Os conhecimentos adquiridos ao longo deste capítulo e de toda a obra podem ser ampliados para todas as mulheres que ainda hoje estão quebrando paradigmas e se estabelecendo em sociedade e que essas possibilidades possam crescer cada vez mais e que as mulheres desmitifiquem o conceito da perfeição e tornem-se empoderadas e capazes de lidar com as próprias limitações e imperfeições que são inerentes ao ser humano.