Santa Teresa de Calcutá: "Venha, seja minha luz"

SANTA TERESA DE CALCUTÁ: “VENHA, SEJA MINHA LUZ”
Miguel Carqueija

Resenha do livro “Venha, seja minha luz”, do Padre Brian Kolodiejshuk (redação) e Madre Teresa de Calcutá (cartas transcritas). Petra Editora, Rio de Janeiro-RJ, 3ª edição, 2016. Tradução: Maria José Figueiredo. Título original em inglês: “Mother Theresa: come be my light”. Imagens da capa: Getty Images (Sal Dimarco Jr., Eric Vandeville) e Stoch fhotographer-Richard Goerg.

Santa Teresa de Calcutá — e eu soube dela já idosa, nos anos 70, quando ainda era apenas a Madre Teresa de Calcutá, mas já com fama de santa!
Uma mulher baixa, muito enrugada, consumida pelo trabalho com os pobres, encurvada, mas quem imaginaria o seu poder?
Caluniada por comunistas, abortistas e anti-católicos, era porém uma figura que entusiasmava, à frente de uma obra grandiosa de recuperação de seres humanos jogados na sarjeta, coisa muito comum na populosa Índia. E a cruzada caridosa de Madre Teresa e suas Missionárias da Caridade irradiou-se pelo mundo afora.
Este livro, de 400 páginas, é singular. É uma biografia da santa escrita pelo Padre Brian Kolodiejchuk, MC, sendo que este MC significa que ele é um “missionário da caridade”, ligado portanto ao movimento da Madre Teresa, que inclui não só freiras, mas sacerdotes e pessoas leigas.
Mas também a Santa Teresa é apresentada como autora, pois a sua história é entremeada com inúmeras cartas de sua lavra, a maior parte delas dirigida a padres e bispos e a outras freiras. Há porém uma singular missiva endereçada a George Bush e Saddam Hussein, às vésperas da Guerra do Golfo, quando Madre Teresa fez um esforço pessoal no sentido de evitar o conflito que tanta destruição e morte causou.
Santa Teresa é a “santa da escuridão”. Isso porque ao assumir sua missão junto aos pobres, correndo todos os riscos pelas ruas de Calcutá e outros locais, ela foi atingida pelo “silêncio de Deus”: uma grande aridez espiritual, a impressão de nada haver fora do mundo, nem Deus, nem eternidade. Esta aridez é uma provação, um apanágio de muitos místicos da Igreja Católica. Mesmo atravessando tal túnel escuro, Madre Teresa jamais fraquejou em sua missão espiritual e caritativa.
“Por favor, reze por mim para que seja do agrado de Deus dissipar esta escuridão de minha alma nem que seja durante alguns dias. Porque, às vezes, a agonia da desolação é tão grande e, ao mesmo tempo o anseio pelo Ausente é tão profundo, que a única oração que ainda consigo dizer é — “Sagrado Coração de Jesus, eu confio em Ti — vou saciar a Tua sede de almas” (carta para o Arcebispo Périer, 27/3/1956).

Rio de Janeiro, 31 de julho a 8 de agosto de 2020.