Vidas Secas
As poucas palavras de um bruto
Fabiano precisava as palavras, assim como quem toca pela primeira vez um fino cálice de cristal. Que ao leve toque ressoa seu tinido adentro, ou pode trincar ao desajeitado toque de um bruto.
Então, o medo escorria testa abaixo, envolto por gotas densas, em jorro.
Sua força era bruta e o objeto quase um tabu.
Dentro de sua cabeça tentava pôr ordem às palavras, organizando-as em pensamentos , mas o medo o fazia retroceder.
A voz falhava, com medo do fracasso.
Como expressar tanto sufoco e sofrimento?
Então, só lhe restava calar-se e espraguejar de boca cheia.
A vida era assim rota, grossa, densa, pedregosa.
Lichenta. Seus pés e mãos que o digam.
Sua garganta sempre seca de água pura, fria, secara dentro as palavras doces que desconhecia. E o pior, fizera delas paralelepípedos broqueando qualquer tentativa de som amistoso.
Sim. Fabiano sabia-se um bruto numa realidade agreste.