Resenha - Simone de Beauvoir – uma vida, de Kate Kirkpatrick (414p)

“Não se nasce mulher, tonar-se mulher”, também “não se nasce homem, torna-se homem”. Sim, ninguém é uma ilha e, mesmo uma ilha, não se constitui apenas de um elemento. Somos plurais para que, por conseguinte, possamos ser singulares.

Em “Simone de Beauvoir – uma vida”, Kate Kirkpatrick (re)apresenta a vida e a obra de uma das mulheres mais representativas da filosofia moderna – ousa-se dizer que, de fato, o é. E é difícil não chegarmos a essa conclusão após a leitura da obra em pauta.

No duelo de “Com Sartre” – companheiro de ideias e afetos da filósofa – ou “para além de Sartre”, observam-se diversos fatores que contribuíram para que Beauvoir tornar-se quem foi e é. Como respaldo, a filosofia existencialista, sustentada pelo célebre pensamento de Nietzche: “Torna-te aquele que és” (posteriormente, desenvolvida por Sartre e outros.) Nessa ruptura da correlação verbal, Simone ultrapassa a barreira do tempo, seja em seus romances (na dupla acepção), contos, ensaios acadêmicos, suas memórias e com destaque para as obras “O segundo sexo” e “A velhice”. Urge, então, que o mundo (re)visite as obras da pensadora para que não se realizem discursos de “má-fé”, e perdoem-me o trocadilho: para que, sendo assim, tenhamos uma “boa-fé” em nós – nós mesmos e uns nos outros.

Beauvoir defendia que para vivermos bem não era necessário sermos invisíveis, mas que precisávamos nos enxergar da maneira certa. É notório que nossa subjetividade só se constrói com o olhar do outro – ainda que esse “outro” seja outra versão de nós mesmos. Por isso, Saramago nos convidava a sairmos da ilha. Nas palavras da biógrafa e filósofa Kate Kirkpatrick: “É difícil florescer como humano quando a pessoa é tão incansavelmente definida de fora para dentro”. Ler e ver Simone de Beauvoir é aprender que devemos ser sujeitos e não objetos de pessoas e circunstâncias.

Leo Barbosa