Roberto Causo resenha Honey Bell

Roberto Causo resenha Honey Bell

NOTA: Esta resenha foi originalmente publicada na página virtual universogalaxis, de Roberto Causo. E Roberto Causo é um dos pioneiros da ficção científica nacional como movimento de base, surgindo com os fanzines de papel aparecidos na década de 1980. Aliás, ele e eu militamos nessa área mais ou menos desde a mesma época e já nos esbarramos em diversas antologias e fanzines. Causo é autor de "Terra verde", "Vôo sobre o mar da loucura" e diversos outros livros de FC, e com publicações também no exterior. É autor de estilo seguro e também um eficiente pesquisador da ficção científica nacional.
Segue abaixo a sua resenha desta minha noveleta que, tendo antes saído numa edição restrita em formatinho, hoje pode ser lida nos meus e-livros, aqui no Recanto das Letras.


As Aventuras de Honey Bel, de Miguel Carqueija. São Bernardo do Campo: Edições Electron/Edições Hiperespaço, 2017, 64 páginas. Artesanal.

 Assim como eu, Braulio Tavares, Cid Fernandez, Finisia Fideli, Gerson Lodi-Ribeiro, Henrique Flory, Ivan Carlos Regina, Ivanir Calado, Jorge Luiz Calife, Roberto Schima e Simone Saueressig, Miguel Carqueija é um escritor da Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira (1982-2015). Apareceu em muitas antologias ao longo dos anos (Possessão Alienígena sendo a mais recente) e seu trabalho marcou a fase dos fanzines desse período. O desktop publishing e a era dos blogs e e-books forneceram a ele um espaço análogo ao dos fanzines, para a sua produção de FC e fantasia em geral leve e descompromissada, voltada para os jovens mas provavelmente sem alcançar esse público específico. Os seus trabalhos mais conhecidos devem ser o conto “Camarões do Espaço” (2009) e a novela juvenil Farei meu Destino (2008).
Esta é uma edição amadora de novela de ficção científica humorística. Honey Bell é uma garota desmiolada que só pensa em arrumar casamento, mas acaba recrutada para agir como agente secreta. A premissa é estranha e exige que o leitor confie na narrativa até que os fatos esclareçam que quem entrou pelo cano foi o malandro que a recrutou. O humor vem da oposição entre o que a heroína enfrenta e o mundo emocional açucarado que ela projeta o tempo todo. É um recurso que a gente vê com frequência nos animes, uma das áreas de interesse do autor. Mas como Carqueija conhece FC a fundo, ele enriquece o enredo e a caracterização da garota com um truque interessante — ela consegue reconhecer meio que por instinto os pontos de estresse e de fratura de inimigos e de estruturas, de modo que, apesar da falta de juízo, termina sempre sendo eficiente. Carqueija só não explica de onde vem essa habilidade (de um implante cibernético, de uma mutação? (*), talvez guardando a explicação para uma nova aventura da personagem.




(*) Sobre esta dúvida do Roberto Causo, não se trata nem de implante cibernético, nem mutação. Embora não haja nenhuma explicação na novela em si, eu geralmente considero os dotes paranormais de algumas de minhas heroínas como dádivas celestes.
E realmente existe uma continuação sendo preparada aos poucos.