Resenha Literária: Na Companhia das Estrelas
Resenha Literária: Na companhia das Estrelas, por Denis Souza
Obra: Na Companhia das Estrelas
Original: The Dog Stars
Autor: Peter Heller
Tradução: Rosana Watson
Editora: Novo Conceito
ISBN: 978-85-8163-234-6
Páginas: 407
Ano: 2013
Em um mundo devastado pela doença, Hig conseguiu escapar à gripe que matou todo mundo que ele conhecia. Sua esposa e seus amigos estão mortos, e ele sobrevive no hangar de um pequeno aeroporto abandonado com seu cachorro, Jasper, e um único vizinho, que odeia a humanidade, ou o que restou dela.
Hig não perde as esperanças. Enquanto sobrevoa a cidade em um avião dos anos 1950, ele sonha com a vida que poderia ter vivido não fosse pela fatalidade que dizimou todos que amava. Hig é um guerreiro sonhador. E tem uma imensa vontade de gente, apesar da desilusão que se abateu sobre ele. Por isso é capaz de arriscar todo seu futuro quando, um dia, o rádio de seu avião capta uma mensagem...
Peter Heller nos apresenta um mundo pós apocalíptico tão lindo quanto devastado, numa peculiar forma de tratar sobre temas pertinentes à raça humana e que todos nós vivemos ou buscamos em meio aos tempos difíceis como amor, amizade, compaixão dando a sua personagem as lembranças de tempos bons como uma espécie de ancora aonde o mesmo possa renovar suas forças e esperanças.
Com uma narrativa por vezes monótona, mas detalhista e mais intimista o autor consegue prender a atenção do leitor mesmo na apresentação de atividades corriqueiras, mas que tinham certo significado que o próprio Hig coloca em sua narrativa e divagações. Mostrando um planeta Terra devastado por uma epidemia que colocou em xeque muitas questões morais por conta da sobrevivência.
A capacidade de Hig conseguir, mesmo em meio ao declínio da civilização, enxergar certa beleza que no fundo sempre esteve ao acesso de todos, mas como humanos tendemos a somente dar valor ou enxergar o mesmo tanto nas coisas como nas pessoas depois que tudo se esvai.
A natureza pôde aos poucos retomar suas terras nas civilizações dos homens e servir de próprio exemplo de esperança e continuidade, pois mesmo com a iminente extinção humana é possível contempla o ciclo de recomeço da própria natureza, sem a interferência assídua da humanidade.
A obra nos mostra como dependemos uns dos outros não só para sobreviver mas para nos remeter a nossa própria natureza que nos torna humanos e necessitados da companhia uns dos outros. Ao mesmo tempo em que nos expõe a uma realidade de sobrevivência de forma individualista, receosa e egoísta, sendo estes também aspectos humanos.
O autor é hábil e tenaz em representar os aspectos tanto positivos quanto negativos da natureza humana e com momentos sensíveis, engraçados ou até tragicômicos por diversas vezes.
Hig é um personagem que por vezes coloca sua própria sobrevivência em xeque para suprir seus anseios de encontrar sinal de vida e a todo momento está questionando sua solidão aparente olhando o mundo por uma perspectiva do alto de seu Cesna 1956, mesmo junto de seu cão Jasper e Barkley, seu vizinho antissocial porem necessitado igualmente de companhia. Até uma mensagem de rádio mudar drasticamente tudo. O cinza e cruel lado da sobrevivência contracena ao lado do contemplativo e reflexivo a todo o momento.
Na Companhia das Estrelas é uma mistura de sensibilidade, percepção da realidade, humor, desejos primitivos de sobrevivência, horror, beleza, ganhos e perdas. Tudo escrito em uma linguagem espetacular, com urgência e ritmo. E sem dúvidas uma das mais belas narrativas de todos os tempos. Não por menos foi considerado um best-seller, e um dos melhores livros da plataforma Amazon também feito parte no clube da leitura da Oprah e melhor livro do mês na Apple.
Trazendo consigo uma mensagem e reflexão que um mundo melhor pode estar em cada um de nós e que há beleza mesmo numa catástrofe que espera para nos reconfortar e nos trazer a lembrança de que somos capazes, assim como a natureza, de recomeçarmos tendo esperança e fé nas pessoas.
“Quando perdi minha namorada do ensino médio, fui pescar. Quando estava em meio a uma crise de frustração ou desespero, parava de escrever o que fosse e ia pescar. Fui pescar quando conheci Melissa e nem ousava ter esperanças de que encontrará alguém que pudesse amar de um modo que ultrapassasse tudo o que havia conhecido. Eu pescava, pescava, pescava. Quando as trutas foram atingidas pela doença, pesquei. E quando a gripe finalmente a levou enquanto estava sendo tratada na Ordem Social Beneficente dos Elks, convertida em hospital, lotado de macas com mortos a menos de quinhentos metros de nossa casa, fui pescar” Pag.79