O primeiro volume dos "Quadros da Natureza"

O PRIMEIRO VOLUME DOS QUADROS DA NATUREZA
Miguel Carqueija

Resenha do volume 1 do livro “Quadros da Natureza”, de Humboldt. W.M. Jackson Inc. Editores, Rio de Janeiro-São Paulo-Porto Alegre, 1952. Clássicos Jackson, 34. Prefácio de F.A. Raja Gabaglia. Tradução de Assis Carvalho.

Há quem diga que Alexandre de Humboldt foi o primeiro ambientalista. Falecido em 1859, aos 90 anos, nascido em Berlim, capital da Alemanha, foi um dos maiores cientistas naturalistas de sua época, viajou pelo mundo e deixou copiosa obra escrita.
Neste volume com mais de 300 páginas ele pinta com cores vívidas o panorama de muitas regiões do mundo, inclusive do norte da América do Sul, principalmente a Venezuela. Tudo interessa a Humboldt: montanhas, rios, cachoeiras, insetos, mamíferos, aves, répteis. Sua narrativa é das mais pitorescas.
Ele fala em índios, discorre sobre o Himalaia e as Montanhas Rochosas, o Tibet, pesquisadores e livros em profusão, é um longo desfile de erudição. Ele fala do clima, de medidas pouco usuais, de cálculos de altitudes provavelmente falhos, por serem insuficientes as técnicas de sua época.
Humboldt comenta sobre povos onde se come terra, como se a mesma pudesse ter algum valor alimentício. “Assim, também nas regiões do norte, na extremidade da Suécia, segundo as informações de Benzelius e Retzius, comem os habitantes do campo cada ano, à maneira de pão, uns por capricho, como quem fuma tabaco, e outros por necessidade, porções de terra extraída dos depósitos de infusórios, que se podem avaliar em muitos centenares de anos”
Cada parte do livro é completada por muitas notas explicativas em letras menores.
Detalhe tragicômico é o episódio em que Humboldt e seus companheiros vão visitar uma cachoeira perdida na Amazônia. Perguntaram aos índios da região sobre crocodilos (na verdade, jacarés). Os índios garantiram que naquele trecho do rio não existiam jacarés. Depois, porém, os viajantes constataram que jacaré é o que não faltava...
Obra riquíssima e empolgante. Se encontrar num sebo, não deixe de comprar.

Rio de Janeiro, 3 de maio de 2020.

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