"Copacabana dreams" de Natércia Pontes: edição impecável, proposta interessante… mas soa frívolo e antipático
“Copacabana dreams”, livro da escritora brasileira Natércia Pontes. Ela nasceu na capital cearense, Fortaleza, e vive atualmente em São Paulo, bem como viveu também no Rio de Janeiro na época em fazia faculdade de radialismo. É nesse período de vida, passado na ‘cidade maravilhosa’, que ela busca inspiração para a obra.
O livro é composto de contos, de diferentes tamanhos. Nos textos, Natércia busca capturar a essência do bairro carioca de Copacabana e seus personagens, ruas e lugares, por meio de metáforas e pitadas de fantástico e absurdo em momentos pontuais. Na prática, uma proposta instigante, mas a execução…
O grande problema que vejo está na frivolidade e antipatia, presentes em todo o livro. A autora sempre pertenceu a uma classe mais abastada, sendo filha do ex-secretário de cultura do Ceará, o que lhe permitiu ter todos os privilégios que tal status permite, deduzo, incluindo estudar e viver no bairro mais rico e elitizado do Rio. Isso não seria, necessariamente, um problema. Entretanto, no passar das páginas, senti um ar de superioridade, de arrogância e até um pouco de preconceito (como na retratação caricata de certos personagens). A impressão que fica, para mim, é a de um texto escrito por uma mulher que nunca se sentou “num boteco da periferia carioca e tomou cerveja barata gelada com copo sujo” (provavelmente, ela escreveria assim. Por mais que o relato possa ser bem-sucedido ao retratar Copacabana (não estou dizendo que seja), a elite que ali vive, com seu olhar avarento, míope, soberbo e descerebrado, não desperta em mim qualquer simpatia ou empatia. E é nesse contexto medíocre que a autora viveu e isso é perceptível na leitura das linhas. As reflexões, os personagens, os dilemas… tudo soa meio frívolo, sem importância, como um espelho fidedigno dessa camada da população que vive num país paralelo ao nosso. Nem as doses de humor pontuais soam engraçadas.
Deixo claro: o problema não está em Copacabana, um lugar incrível. Meu problema está com a elite que ali vive e que eu, dentro de uma generalização consciente, me sinto forçado a levar em consideração na abordagem literária. É como se Copacabana fosse muito maior do que a elite que ali vive e isso é triste pois a riqueza cultural de uma cidade está mais nas pessoas (e suas histórias) do que nos lugares em si.
Há momentos interessantes, a prosa é fluída, mas o todo é decepcionante. O único ponto realmente positivo no livro, e que foi o que me chamou a atenção inicialmente, foi o projeto gráfico da falecida Cosac Naify. Os títulos de cada texto possuem uma tipografia única, que remete a letreiros luminosos do bairro. A capa, com letras douradas (riqueza?), possui uma textura diferenciada (veludo?), num tom bonito de azul (o sangue?).
Acharia o livro ruim, mas o trabalho da Cosac melhorou a avaliação. Contudo, não chega a ser bom.
NOTA: 2/5 (regular).
FICHA: PONTES, Natércia. Copacabana dreams. São Paulo: Cosac Naify, 2012, 128 páginas.