Chico - de Arthur Azevedo
A pedido de seu médico e amigo, o Doutor Miranda, Chico, homem prestativo e solícito, investiga a biografia de Alexandrino Pimentel, pretendente à mão de Maricota, mulher de trinta e sete anos, solteira, irmã do Doutor Miranda. Vem Chico a descobrir que havia sido Alexandrino Pimentel, casado com a filha de Trancoso, e foi ter com este, em Copacabana, após procurá-lo em Inhaúma, de onde se transferira para Copacabana seis meses antes, e dele ouviu palavras que descreviam o pretendente à mão da irmã do Doutor Miranda como um tipo asqueroso, de baixa estirpe, iníquo, desprezível. Incrédulo, suspeitando que Trancoso, homem mal-humorado e irascível, exagerava nas tintas que usara para pintar o homem que fôra seu genro, persistiu na investigação, vindo a confirmar, ouvindo palavras saídas de outras bocas, a má reputação que de Alexandrino Pimentel o sogro deste lhe pintara. Tão logo encerrou a sua aventura detetivesca, Chico, obsequioso, tratou de transmitir ao Doutor Miranda as notícias que lhe chegaram ao conhecimento. Contou-lhe tudo que sabia, e do que soube falou para Maricota, que se enfezou, fincou pé, e, destemida, disse amar Alexandrino Pimentel. E com este casou-se Maricota, contrariando seu irmão, que se resignou, afinal, era Maricota adulta, mulher de trinta e sete anos, e cabia a ela, e apenas a ela, ciente do temperamento e da reputação de Alexandrino Pimentel, decidir se viveria, ou não, com ele, maritalmente. E o universo pregou uma peça no prestativo Chico, pois a vida em comum entre Alexandrino Pimentel e Maricota não correspondeu ao vaticínio que todos deram ao considerarem o passado de Alexandrino Pimentel.