Poética - Aristóteles

Poética Aristóteles. Poética. São Paulo: EDIPRO, 2011

O texto de Aristóteles, Poética, foi elaborado com base em anotações de aulas, – justificando, dessa forma, sua aparente fragmentação e incompletude –, e também da organização sistemática, da apresentação didática – uma espécie de livro do professor –, a respeito da técnica da poesia.

Inicialmente é desenvolvido o conceito de poesia (vista como imitação) e são divididas as espécies de poesias da seguinte maneira: tragédia – considerada a arte mimética por excelência; de caráter elevado; os atos do personagem devem estar de tal forma concatenados cujo resultado seja a catarse; a comédia – vista como inferior, revelando homens piores que a média –, é somente referida como uma promessa de estudo; a épica – imita homens valorosos, como na tragédia, com a diferença de que possui só um tipo de mediador, enquanto a tragédia tem diversos; ditirambo – poesia coral, inicialmente tendo por tema o louvor a Dionísio; nomo – odes líricas entoadas por um coral, em homenagem a Apolo. Em capítulos resumidos, Aristóteles fala acerca de temas centrais da composição da poesia, critérios distintos de imitação narrativa, gêneros e verossimilhança, usando como exemplos Homero e outros autores.

No cerne de definição de poesia está a ideia de mimèsis, cuja origem se encontra na natureza humana, termo designado, às vezes, por “representação”, em outras, por “imitação”. Diz o autor que Empédocles, ao escrever versos com uma finalidade científica e não uma obra que imita ou representa a ação humana, deve ser considerado especialista da natureza e não poeta, pois ele narra acontecimentos e não o possível, o verossímil; não há em Empédocles essa essência do poeta, ressalta Aristóteles.

Observa-se, neste ponto, um aspecto central da fala aristotélica. A arte não é vista apenas como a arte pela arte, vai muito além. A mimèsis, intrínseca à natureza do homem, não provoca somente prazer a ele, é sim uma forma de aprendizado. A poesia tem um emprego prático e reveste-se, assim, de uma importância moral. O dever do poeta não é simplesmente relatar a realidade nua e crua, mas sim o que poderia acontecer, por necessidade ou possibilidade. Para isso, o poeta deve imitar proposições universais, que é uma classe de afirmações e atos que certos tipos de pessoas podem dizer ou fazer numa situação específica.

O historiador expõe fatos e acontecimentos, muitos desses frutos da casualidade ou não passíveis de explicação. Do poeta espera-se que expresse, em sua representação de tais ocorrências e dos que delas fazem parte, aquilo que, nas circunstâncias e na ação de um homem, é útil a toda a humanidade. O que o expectador (ou leitor) aprende, ao ver representadas ações dos personagens e suas consequências, é a verdade sobre a atrevimento humano, sobre os perigos do poder, sobre a inexorabilidade do destino. O poeta tem o dever de fazer despertar em seu público temor e piedade; estas, por seu turno, farão acontecer a catarse. Essa catarse terá um efeito purgativo, levará a uma tomada de consciência de atos cometidos.

Toda arte é imitação. As diferenças entre elas estão nos meios, objetos e modos de imitação. O meio diz respeito aos recursos e artifícios da composição poética. Os meios comuns aos gêneros, segundo Aristóteles, são a harmonia – metro; o ritmo, a linguagem – canto; e as cores e as figuras – pintura e escultura.

O objeto refere-se aos conteúdos da composição poética, que são as ações humanas – os poetas imitam atos humanos, que podem ser bons (prática da virtude) ou maus (do vício).

O modo de imitação é a própria narração, que é de dois tipos: a epopeia e o drama (trágico e cômico). Na epopeia, há a presença de um narrador; no drama, não existe o narrador; cada personagem realiza a ação e executa o drama (como no teatro e, exemplo atual, na telenovela). Nessa perspectiva, é possível se ponderar que a mimese é dúbia em Aristóteles, pois que, além de representar, traz em si uma espécie de estímulo do que está representando.

Há seis elementos da tragédia: (1) enredo;(2) caracteres; (3) elocução; (4) pensamento; (5) espetáculo; (6) música. Há duas fontes, principais, de inspiração da tragédia: (i) os mitos – história contadas pelos antepassados; (ii) a atualidade política de Atenas – temas que expunham o abuso de poder, crimes, ações funestas, com o objetivo de tocar a emoção do público.

A origem do teatro remonta ao século VI a.C., na Grécia, surgindo das festas dionisíacas realizadas em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho, do teatro e da fertilidade. Essas festas eram rituais religiosos, procissões e recitais que duravam dias seguidos, aconteciam uma vez por ano e tinham como espaço as arenas. Atualmente o teatro tem como objetivo o lazer em salas fechadas, ou mesmo em outros espaços alternativos.

Tanto as tragédias quanto as comédias gregas eram inteiramente compostas em verso; nelas havia partes faladas e partes cantadas com acompanhamento musical; elas não podiam ser misturadas – o que atualmente é totalmente permitido a mistura e revezamento dos gêneros.

Diferentemente do teatro grego, que era de cunho social, cujos temas eram as leis, a justiça e o destino, o teatro atual não mostrar mais assuntos de ordem social, seu intuito é tratar do homem e de seus conflitos interiores.

Além disso, no teatro grego exclusivamente homens podiam atuar: hoje, homens, mulheres e crianças participam da vida teatral. Atores gregos usavam máscaras; atualmente estas são raramente utilizadas. A configuração obrigatória das peças gregas era formada por três atores, homens, um coro e músicos. Hoje, a escalação de atores e atrizes, de coro ou de música é conforme a vontade do autor e do diretor.

Nos dias atuais, o teatro é uma atividade que vive mudando, tornando-se cada vez mais importante para as pessoas. Embora tenham ocorrido tantas modificações, os gregos são, até os dias atuais, uma constante e importante referência no que se refere ao teatro – uma arte que vale a pena assistir, pois é um entretenimento produtivo e informativo para todo e qualquer público.

Rosangela Calza