A NOVA UTOPIA
RESENHA DA OBRA
A NOVA UTOPIA, de Jerome K. Jerome
Por Ana Paula de Oliveira Gomes
Fortaleza/CE
@engenhodeletras
A NOVA UTOPIA, do escritor e humorista inglês Jerome K. Jerome, foi lançada em 1891 (mesmo ano da primeira Constituição republicana brasileira). Jerome, metaforicamente, retrata as antíteses dos defensores do suposto coletivismo, suas suas falácias e absurdos.
O autor demonstra que, sob o mantra da igualdade (que nem formal chega a ser), aniquilam a liberdade humana, consecutivamente, a dignidade do ator social. Quaisquer regimes totalitários, de esquerda ou de direita, ilustram historicamente o fenômeno. A obra de Jerome nunca foi tão atual e necessária.
O livro expressa criação ficcional. Representa uma sociedade construída para determinar o paraíso na Terra: sistema “perfeito” via hipertrofia estatal considerada ideal, “defensora” da máxima felicidade e da total concórdia entre os apáticos sujeitos.
Em vinte sete (27) lúcidas páginas, a literatura distópica de Jerome, evidencia o paradoxo entre teoria e prática, sobretudo, o exercício do poder ditatorial mediante domínio ilimitado do grupo social – tratado como mero agrupamento humano, tratado como criatura a lembrar (vagamente) o humano.
O autor contesta a doutrinação-delegação da própria vida ao Estado. Refuta mensuração humana por curta régua. A partir do sentido próprio das colocações, abre portas a figurações. Clama ao leitor para pensar com a própria cabeça e escapar do efeito-rebanho. Será se a maioria não pode fazer errado? Visionariamente, anteviu os horrores a serem cometidos por quaisquer defensores de regimes totalitários.
Trata-se de livro comprometido com o ideal libertário. Sim, a minoria pode e deve participar dos processos deliberativos com vez e voz! Eis a leitura tecida do conjunto da obra: igualdade de oportunidades no ponto de partida, cabendo o ponto de chegada ao livre arbítrio do ser pensante.
Finalmente, é preciso estar atento (a) ao sofismático discurso de que o Estado faz melhor. Legitimar hipertrofia estatal significa olvidar o protagonismo histórico do sujeito. Nas palavras do próprio Jerome, p.27:
"Através da janela aberta, ouço a pressa e rugido da batalha da vida. Homens estão lutando, lutando, conquistando cada um sua própria vida com a espada da força de vontade. Os homens estão rindo, sofrendo, amando, fazendo coisas erradas, fazendos grandes obras - caindo, lutando, ajudando uns aos outros - vivendo!"