PESSOAS QUE PASSAM PELOS SONHOS

(ALERTA DE SPOILER; CONTINUE POR SUA CONTA E RISCO).

Primeira leitura do ano!

É um livro interessante, bem lento, calmo e contemplativo. Cadão Volpato faz sua estreia na literatura, falando acerca de dois homens e suas famílias, numa relação que lida com o eixo Brasil-Argentina, e acompanha suas vidas ao longo dos anos.

Os protagonistas o livro são o argentino Mario, identificado como Tortoni, e seu amigo brasileiro, Rivoli. O argentino é um taxista, nascido numa família pobre, mas que felizmente conseguiu se destacar trabalhando muito, principalmente nos hotéis menos procurados

da capital argentina (daí seu apelido, vindo do hotel onde sempre fazia ponto). Rivoli, por sua vez, é um arquiteto brasileiro, homem notavelmente alto e com feições de sueco, bastante tranquilo (e até meio avoado).

Os dois se encontram numa viagem para um hotel no fim do mundo, ao norte da Argentina, e desenvolvem uma amizade que perdura, sendo testada vários anos depois.

É uma obra difícil de ser comentada; para mim, pareceu um livro bem lento e singelo, mas com uma narrativa sem brilho. É compreensível por se tratar de uma estreia, mas é fato que a escrita não empolga como se espera. É preciso se acostumar ao ritmo do escritor, e talvez um leitor menos paciente abandone a obra facilmente. Não é uma obra ruim, mas o fato é que Volpato parece criar uma narrativa mais singela, indireta, onde a contemplação da vida e do tempo são mais importantes que o enredo em si.

Por exemplo: Tortoni e Rivoli iniciam a obra com o carro quebrado na estrada. Eles passam um longo tempo preso ali, devido a uma greve que paralisa os caminhoneiros e bloqueia as suas vias de acesso. O escritor então aproveita para desenvolver seus personagens, mas o faz tão devagar que você se esquece completamente de como iniciaram a história. Quando finalmente chegam ao destino, pouco acontece no tal hotel do fim do mundo (menos de cinco páginas, isso porque já estamos no meio do livro).

Essa quebra da expectativa acaba causando uma monotonia, o que é fatal num romance. A impressão é que a ideia de Volpato era demonstrar que o caminho e o percurso são mais importantes que a história, e nesse caso, não funciona. O único personagem que me cativou um pouco mais foi mesmo Tortoni, mas na segunda metade do livro ele desaparece. Rivoli como protagonista é muito fraco, o que faz com que seus filhos (e os de Tortoni) roubem o protagonismo. Nem o plot twist final acaba surtindo o efeito buscado, porque destoa muito do resto da trama.

Em suma, uma obra mediana, que tem seus momentos, mas que não supriu o que eu esperava.

Indicado para: quem quer relaxar após uma ressaca literária.

Nota: 6,5 de 10,0.