Santo Agostinho e a política

SANTO AGOSTINHO E A POLÍTICA
Miguel Carqueija

Resenha do livro “A visão política de Santo Agostinho”: utopia ou realidade?”, pelo Padre Paulo Hamurabi. Edições Lumen Christi, Rio de Janeiro-RJ, 2018. Texto de contra-capa: Professora Maria de Lourdes Corrêa Lima. Capa: Artur Eduardo Aragão de Azevedo. Apresentação: Professor Paulo César Milani Guimarães. Prefácio: Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. (Ordem Cistercience), Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Este ensaio é saboroso e atraente. O Padre Paulo Hamurabi examina o pensamento político de um dos maiores nomes da Igreja Católica, que viveu nos séculos 4 e 5, e especialmente sua grande obra em vários volumes, “Cidade de Deus” (De Civitate Dei).
Reconhecido como grande filósofo e pensador, Agostinho foi Bispo de Hipona, no norte da África, onde na época florescia o Cristianismo. Eram os tempos confusos da decadência do Império Romano, prefigurada pela sua hipertrofia.
Hamurabi repisa a colocação do santo, de como o ser humano precisa seguir as leis divinas para que a vida na Terra seja justa e suportável. Já temos aí uma doutrina social. Vejamos algumas observações do autor do estudo:


“O sistema político de hoje, como nos meandros do século IV, está ameaçado por tantos perigos. Precisa como o Império Romano aceitar os princípios cristãos, portadores de valores que de fato podem sustentar a vida social e o poder político” (pg. 16).
“O bispo de Hipona afirma que o livre-arbítrio ocupa um lugar fundamental na distinção e escolhe entre as coisas a serem amadas e as que devem apenas ser usadas” (pg. 110).
“Mesmo conhecendo a natureza humana decaída com inúmeras paixões, Santo Agostinho acredita na constituição de um Estado de acordo com o ideal do Criador, pois a felicidade que os homens almejam na Terra só poderá ser construída quando Deus for amado sobre todas as coisas” (pg. 74-75).


Admite Agostinho duas cidades: a de Deus e a dos homens — esta, a sociedade construída em bases materialistas, mesmo a romana enquanto inspirada por deuses falsos e repletos de paixões, os da mitologia.
O autor do ensaio, quando cita o próprio Doutor da Igreja, coloca a citação em itálico. São palavras de Agostinho:

Por mais louvável que pareça o império da alma sobre o corpo e da razão sobre as paixões, se a alma e a razão não rendem a Deus a homenagem da servidão que Ele manda, tal império não é verdadeiro e justo” (pg. 127).

E sobre os problemas sociais de seu tempo:

“A cada dia, ah, são tantos os indigentes que pedem, gemem, nos suplicam que nós deixamos muitos deles com sua tristeza porque não temos o que dar para todos” (pg. 41).

E da necessidade de proteger o bem individual e coletivo:

“Uma coisa não é a ventura da cidade e outra a do homem, pois toda cidade não passa de homens que vivem unidos” (pg. 66).

O livro do Padre Hamurabi é ótima introdução para quem deseja conhecer a obra do grande Santo Agostinho.

Rio de Janeiro, 9 de setembro de 2020.