O mal que habita em mim
Resenha
Marcelo Junio Silva
LUNDGAARD, Kris. O mal que habita em mim. Traduzido por Claudio Batista Marra Jr. 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
Publicado originalmente em inglês com o título The Enemy Whitn por Kris Lundgaard em 1998, O mal que habita em mim, título da obra em português é um livro que aborda um assunto muito importante para quem quer que se preocupe com a questão dos efeitos do pecado em nossas vidas. O livro está dividido em quatro partes maiores com subtítulos que orientam a leitura relacionando cada parte com o tema central, totalizando assim cento e quarenta e seis páginas que são bem distribuídas em treze capítulos de uma boa leitura. Ao final de cada capítulo o autor traz algumas questões para reflexão e possíveis discussões, possibilitando assim uma discussão em grupos sobre o livro.
Kris Lundgaard começa logo no prefácio levantando uma pergunta que é a indagação motivadora para a escrita do livro, isto é, “porque ainda peco? ”. O autor aborda essa questão como algo que o incomodava por muito tempo, recorrentemente trazendo-lhe a angustia própria da situação sem a resposta devida. Foi então que, a partir de sua iniciativa da leitura de um grande vulto do passado, John Owen, e sua brilhante ideia de trazê-lo para o século 21, que Lundgaard vai desenvolver em parceria com Owen algumas considerações ao tema, O mal que habita em mim, uma conversa franca sobre o poder e a derrota do pecado.
A primeira parte do livro Kris Lundgaard trabalha a questão do “poder do pecado no que ele é”. O autor nos chama a atenção no primeiro capítulo para sua experiência pessoal em relação ao “fato de o pecado habitar em nós ser uma lei” [17]. Essa lei exige de nós seu cumprimento, e são “os crentes as únicas pessoas que encontram a lei do pecado operando dentro deles” [19]. A forma como Lundgaard descreve a ação do pecado nos leva a compreender sua força, pois segundo Ele “a lei do pecado em nossas vidas é como um rinoceronte” [25]. Esse mesmo pecado tem recompensas e punições conforme obedecemos ou o desobedecemos, e cabe ao crente lutar contra esse rinoceronte. Apesar de nos alertar que o pecado tem uma “vantagem sobre nós de se esconder em uma insondável e enganosa fortaleza onde não o podemos achar” [35], assim nos diz Lundgaard comparando nosso coração com uma casa mal-assombrada. Entre várias comparações didáticas o autor expõe o poder do pecado em nós, porém termina a primeira parte nos dizendo que “existe em nós um guerreiro que está comprometido, desse mesmo modo, com a destruição da carne. O Espirito Santo guerreia contra a carne (Gl 5.17)” [p.45].
Na segunda parte do livro, Kris Lundgaard aborda a questão do poder do pecado em como ele age, e faz uma declaração importante acerca do modus operandi de Satanás, “quando a carne o engana você irá pecar” [51]. Uma das formas segundo o autor que a carne nos engana, é “enfraquecer a convicção contra o pecado” [60], e a destruição da mente é o alvo do pecado na tentativa de nos derrubar. Nesse sentido o autor declara que “Quando a mente entrega sua guarda sobre a alma ao negligenciar os seus deveres, as afeições e a vontade com certeza a seguirão” [72]. Lundgaard é muito didático em sua exposição, e nessa segunda parte utiliza algumas formas de comparações que elucidam a ação do pecado como comparar a ação do pecado com uma pescaria na qual “o anzol tem que estar coberto, disfarçado, de modo que pareça atrativo para a espécie de peixe que você quer pegar” [85]. O fato é que o objeto da ação do pecado, conforme apresentado pelo autor nessa parte é a mente, e o pecado é persuasivo cirando distorções das escrituras, padrões de duas medidas, mantendo-nos nas trevas da ignorância para não darmos a devida atenção para sua ação.
Na terceira parte do livro, não mesmo importante que as outras, porém com menor volume, Kris Lundgaard faz uma pergunta um tanto quanto reflexiva em relação a inflexibilidade da carne: “Será que ela poderia, por exemplo, levar as pessoas a se esquecerem do seu primeiro amor por Cristo? [109]. Pergunta é seguida de sete características da ação da carne como agentes que trabalham apagando o fervor do primeiro amor na vida do cristão. A sugestão do autor nesse contexto é de apaixonar-nos novamente por aquele que é o desejado das nações, o amante de nossa alma, pois “Jesus se dá a todo aquele que o ama com as chamas do primeiro amor” [117].
Na quarta e última parte, com uma inusitada chamada a pregar a tampa do caixão do pecado o autor nos convida em primeiro lugar a um transplante de medula, pois a ideia prevalecente é de que apesar do desgaste que é tal tratamento, pois deixa a pessoa como que morta, ainda assim traz a cura para a alma. Assim é a contemplação da glória e majestade de Deus, isso é, nos deixa caídos como mortos, porém é o único antidoto eficaz contra o pecado. Essa contemplação da glória de Deus também nos concede a verdadeira paz. A isso Lundgaard contrapõe a paz oferecida pela carne, isto é, uma paz de tolos, com o Deus da paz e a paz de Deus. Em relação a paz da carne o autor diz “que devemos aprender a discernir entre o consolo de Deus e a paz fácil da carne” [131], e para isso propõe algumas marcas que nos ajuda a discernir entre uma e outra, como “saber que é a carne que está falando quando a paz vem e ainda não odiamos o pecado”, ou também que nós devemos “saber que é a carne a falar quando a paz vem somente pela lógica”.
Diante de todo esse quadro, o leitor pode até pensar que o pecado é imbatível, que não podemos contra ele. De fato, nós mesmo não o podemos, porém, o autor caminha para um final onde “apenas o sangue de Jesus pode libertar do pecado” [139]. O meio por onde isso acontece é a “Fé Letal”. Essa é a proposta de Lundgaard, uma fé que “espera o socorro vindo de Cristo”, pois como bem afirmado pelo autor, “matar a carne é um dever nosso, mas a obra é dele”. [143]. Portanto a vitória sobre o pecado nos é dada pela quando nos apropriamos pela fé no sacrifício de Cristo por nós.
O mal que habita é mim é um livro muito didático sobre essa temática do pecado na vida do cristão. Muito apropriado para estudos em grupos, ou até mesmo em classes de escola dominical, pois traz uma linguagem acessível e cativante. A despeito de ter mencionado inicialmente a pessoa e obra de John Owen, o desenvolvimento do texto não mostra uma reflexão a altura do nome em questão. Talvez o autor estivesse mais preocupado em deixar ser entendido do que necessariamente trazer uma reflexão mais profunda. Contudo, recomendo a leitura para uma introdução ao assunto.