Só nos sobraram os espinhos
O filósofo Arthur Schopenhauer escreveu um conto para tratar da solidão. Essa obra, chamada de O dilema do porco espinho, seria célebre em abordar desse fenômeno social cada vez mais presente e preocupante. É através dessa metáfora que questões profundas são consideradas. O historiador Leandro Karnal soube se utilizar muito bem desse delicado tema no livro O dilema do porco espinho: como encarar a solidão.
O ensaio, através de fontes diversas como a Bíblia, o Corão, clássicos da literatura, biografias de sujeitos, pinturas e leis, nos trazem a complexidade do objeto. A solidão, embora seja única, é ao mesmo tempo múltipla quando abordada com um enfoque. Para a medicina, um sintoma patológico; para o artista, um mal necessário, e até bem-vindo; para o religioso e o sábio, caminho de iluminação.
A obra é dividida, já em sua segunda edição, traz uma apresentação acertada do tema, seis capítulos e uma conclusão. No primeiro capítulo do livro, Karnal nos leva a refletir sobre a tradição judaico-cristã, mostrando pontos de convergência e as largas divergências entre cristão e judeus em lidar com a solidão. O individualismo da modernidade é retratado aqui como um dos fatores para o isolamento social.
O capítulo dois, se desdobra sobre o contemporâneo e a relação que os seres humanos desenvolveram com as novas tecnologias. Quase sempre uma relação de dependência, quase a nível químico, e alienação. No capítulo seguinte, ele faz uma distinção entre solidão e solitude. Suas fontes aqui são os clássicos da literatura e os explora muito bem, numa relação entre História e Literatura.
Em O Deus da Solidão, Karnal oferece mais uma vez a relação entre as religiões e a solidão. Expandindo o escopo para outras religiões além das monoteístas. Por aqui desfila a vida de vários santos e líderes religiosos. O próximo capítulo avança na área de História e Cinema. As representações sobre o isolamento humano são tratadas aqui, bem como suas consequências no imaginário social. O último capítulo vai abordar um tema caro ao Brasil, e talvez, esse seja um dos melhores desse livro: o encarceramento.
Assim como muitos outros dos seus ensaios, os livros, embora sejam curtos, não traz leitura descompromissada. Os temas sempre são relevantes. É leve, gostosos de ler, com linguagem acessível a qualquer leitor, principalmente os que não são acadêmicos o que deveria ser uma preocupação de muitos cientistas e editoras. São cerca de 200 páginas. O livro conclui com uma pergunta capciosa, mas de necessária reflexão. Livro recomendado para qualquer leitor que deseje entender a questão da solidão e do isolamento.
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