A princesa e o dragão prateado: uma história de amizade
Entre os contos de fadas modernos que colocam princesas que não precisam de príncipes encantados, um que merece ser lido é A princesa e o dragão prateado, de Atenéia Rocha França de Araújo, publicado pela Garcia Edizioni. Neste conto de fadas, assim como em História meio ao contrário de Ana Maria Machado, vemos princesas que veem que a vida pode ser mais do que o “e foram felizes para sempre” e decidem ser as autoras do seu destino em vez de seguir o lugar comum normalmente destinado às princesas.
Nesta história, o relacionamento que se forma entre a princesa e o dragão é uma bela amizade, que supera preconceitos e medos, levando ambos os protagonistas a superar os limites na busca pela felicidade. O dragão prateado é um jovem e curioso dragão que, apesar das advertências dos outros dragões de que sofrerá ataques e preconceitos, decide conhecer o mundo dos humanos, acreditando que se for amistoso, acabará por ser compreendido e aceito mas só encontra humanos temerosos e dispostos a ataca-lo.
A princesa, que se destaca não por sua beleza – ela não é descrita fisicamente – mas por sua inteligência, toca instrumentos musicais, fala idiomas, lê muito e, portanto, tem noção de que a vida pode ser mais do que simplesmente casar com um príncipe. Ela foi prometida ao príncipe herdeiro de um reino aliado e está desesperada porque ele é tolo e vaidoso, sempre dizendo que ela teve grande sorte em ser destinada a ele. Consciente de que não quer viver uma vida de tédio ao lado de um marido fútil, a princesa não espera que ninguém a salve mas resolve fugir, terminando por encontrar o dragão, que a salva de uns lobos. Ao mesmo tempo, eles se conhecem e começa uma bela história de amizade.
O que virá a partir daí? Para sabermos, teremos de ler a história, que fala não apenas sobre amizade, mas também sobre o preconceito que nos leva a julgar pela aparência, sobre a coragem de lutar contra a opressão que nos impede de ser donos da nossa vida e sobre ir em busca da liberdade, correndo riscos.
Tem-se notado que muitos contos de fadas têm subvertido a lógica costumeira da princesa que é salva por um príncipe, casa com ele e é feliz para sempre, como em Valente e Frozen, da Disney, que, ironicamente, tornou-se famosa por seus longas com princesas tradicionais, como a Branca de Neve e a Bela Adormecida. Hoje, tem havido uma tendência a mostrar princesas que não querem ou não precisam casar com um príncipe, mas preferem escolher elas mesmas o caminho da sua felicidade e A princesa e o dragão prateado, além de seguir essa tendência, mostra a princesa fazendo amizade com o dragão, figura que já fez muito o papel de vilão em contos de fadas, e desejando escapar de um casamento que a mergulhará numa rotina entediante.
Portanto, é um livro recomendável para pré-adolescentes e também para adultos, que poderão se deliciar com uma história diferente das que costumavam ler quando crianças.