"Maquetes de papel" de Paulo Mendes da Rocha: uma aula do maior arquiteto vivo
Livro “Maquetes de papel” do capixaba Paulo Mendes da Rocha, considerado o maior arquiteto brasileiro na atualidade, tendo conquistado o Prêmio Pritzker (o Oscar da arquitetura) de 2006, o Prêmio Leão de Ouro da Bienal de Veneza (Itália), o Prêmio Imperial do Japão, em Tóquio, dentre outras premiações nacionais e internacionais.
Trata-se da transcrição de uma aula dada pelo professor Paulo Mendes da Rocha em meados de 2006, na cidade de Curitiba (PR). Em seus projetos, ele costuma criar maquetes de papel simples, de baixo custo de confecção. Tal maquete não é para ser exibida ao público. Ela é feita pelo arquiteto para ser utilizada pelo próprio arquiteto, como uma etapa de visualização física da ideia manifestada no papel, como uma forma de experimentação. Ainda segundo o professor, essa etapa é como uma “brincadeira” que traz em si, de certa maneira, um caráter lúdico.
O professor chama a atenção para a necessidade que o arquiteto tem de pesquisar aquilo que já foi realizado. Precisa pesquisar livros, lugares. Mais do que isso: é necessário entender a dinâmica das cidades contemporâneas, consideradas “mais ou menos infelizes”, nas palavras do professor, e tentar definir o papel social, político e crítico do arquiteto na apresentação de seus projetos. É necessário pensar bem naquilo que o projeto falará para as pessoas.
Embora voltado para arquitetos, ao utilizar uma linguagem mais informal, consultando outras áreas do conhecimento como História, Geografia, Filosofia, Artes Plásticas, etc., sua aula se torna acessível a pessoas de outras áreas. De certa forma, transforma o livro em um material interessante para qualquer pessoa que lide ou venha a lidar com algum tipo de projeto.
No livro, são citados dois projetos específicos: a Praça dos Museus da Universidade de São Paulo (2000) e o reservatório da cidade de Urânia (SP) (1968). Durante a elaboração das maquetes, segundo o professor, o arquiteto verifica o diâmetro certo, a altura certa, a escala humana, faz experimentações com um abajur/luminária para testar o efeito da luz sobre o conjunto, tenta se enxergar dentro da construção. Como se trata de uma maquete para experimentação, podem ser utilizados materiais de baixo custo e que permitam dinamismo nas alterações.
O grande destaque da aula do professor é a preocupação com o município, seus habitantes e todo o conjunto em si, em uma linguagem que recorre bastante a metáforas poéticas. Paulo Mendes da Rocha fala de forma apaixonada e cativante.
O livro, editado pela falecida Cosac Naify, como era costume da editora, é um projeto gráfico primoroso. O livro é uma maquete em si. As páginas, em diferentes tamanhos, simulam uma maquete topográfica.
Enfim, mesmo sendo um livro de arquitetura, é uma leitura interessante para qualquer profissional e/ou interessado no assunto. Entendo que o livro deve ser fiel à aula que foi ministrada. Contudo, sinto que poderia ter mais materiais de anexo como fotos de outros projetos do autor, comparativos entre planta, maquete e obra pronta, bem como mais notas de rodapé para o público mais leigo, etc.. Uma boa leitura.
NOTA: 3/5 (bom).
FICHA: ROCHA, Paulo Mendes da. Maquetes de papel. São Paulo: Cosac Naify, 2007, 4ª reimpressão, 64 páginas.
P.S.: Caso tenha gostado do que escrevi, visite https://mftermineideler.wordpress.com/