Um futuro estranho: loteria solar

UM FUTURO ESTRANHO: LOTERIA SOLAR
Miguel Carqueija

Resenha do romance “Loteria solar”, de Philip K. Dick. Galeria Panorama, Lisboa-Portugal, sem data. Ace Books, EUA, 1965. Título original: “Solar lottery”. Tradução: Eduardo Saló. Série Antecipação, 21. Obs.: nesta edição portuguesa a grafia utilizada é “Lotaria solar”.

Esta novela consta ser a primeira de Philip K. Dick, autor controvertido que se tornou um dos mais famosos especialistas no gênero FC. A história em questão é muito estranha e diferente, passada em 2203 e baseada em ideia dos cientistas Heisenberg (princípio da incerteza) e Von Neumann (teoria dos jogos).
A tal loteria solar do título trata-se de um jogo onde quem ganha torna-se alvo de uma caçada mortal, onde o poder é disputado através do assassinato. Portanto, uma distopia sofisticada. Como de hábito em tais histórias os personagens nem estranham as mazelas do sistema.
Ao se tornar o “Interrogador-Chefe” da loteria, Cartwright passa a ser o alvo do assassino mandado pelo seu antecessor, Verwick. Nisso tudo o personagem Ted Benteley torna-se o coringa da trama. Ele tem os seus princípios: “Não lhe interessa que o seu trabalho se destine a um objetivo útil?”, pergunta ele a Eleanor Stevens, secretária (logo, a ex-secretária). Aparentemente, até isso já não era regra nesse mundo doido do futuro.
Um futuro onde mercadorias não compradas (por causa da situação miserável do povo) eram queimadas. Um futuro onde o chefe do sistema tinha a chance média de sobreviver por duas semanas.
O romance é interessantíssimo, com lances que prendem a atenção e um grande senso de originalidade por parte do autor.

Rio de Janeiro, 8 a 29 de dezembro de 2019.