Caçadores de emoções... e aventuras

O Estúdio Armon está se firmando como um dos maiores expoentes do mangá nacional. Sem desconsiderar iniciativas anteriores, e outros quadrinistas independentes, a Revista Action Hiken acabou reunindo uma Geração de Ouro dos mangás brasileiros no século XXI. Digo isso não por preciosismo, mas pelo fato do grupo não apenas publicar de mo-do impendente, mas manter uma frequência e aumentar sua qualidade e quantidade.

Um desses mangakás a ganhar uma vaga na publicação é o Israel Guedes. O autor publicava o mangá T-Hunters em um aplicativo online de webcomics, mas quando pas-sou a publicar na Action Hiken n. 43, junho de 2019, aumentou em muito a visibilidade do seu título. Foi uma decisão acertada do autor, e da antologia, que teria mais uma óti-ma série. O Israel é bem experiente e demonstra ter uma grande maturidade profissional.

Após a morte de seus pais, Hanako “Hana” Hanajima acaba fugindo de casa para se salvar. O assassino matou seus pais a sangue frio. Não restou nada a jovem, de apenas 10 anos. Em contrapartida, temos o protagonista o Ken’ichi “Ken” Akamatsu. Esse jo-vem de apenas catorze anos está atrasado para o funeral da sua irmã mais velha. Ambos tinham uma boa relação, mas também um conflito de personalidades, pois, ela era al-guém muito altruísta, já o Ken é um pessimista.

Antes de chegar ao funeral, acidentalmente, acaba em meio a uma luta entre um Treasure Hunter (T-Hunter) e um caçador de recompensas. O T-Hunter o salva, e o ca-çador foge após ser ajudado por uma misteriosa companheira. A partir desse momento, uma série de acontecimentos irá unir os destinos de Ken e Hana. O personagem irá des-cobrir uma guerra entre poderosas organizações secretas, magias e cidades misteriosas.

A primeira coisa que me chamou atenção nesse mangá: o traço. Olhando pela capa, você acha que vai ler algo meio shoujo, mas o autor não poupa em violência gráfica. Na-da de autocensura aqui, até me impressionei com a veracidade da violência. O desenho tem boas referências, os traços são grossos, pesados, mas ainda assim dinâmicos. Me lembra mangás mais adultos.

A página tem muitos quadros, o autor apela para closes e planos detalhes. O traço é seinen, a diagramação é shoujo, o mangá é shonen. Eu achei uma escolha acertada. Em paisagens, ou melhor, ambientes externos, o desenho é pouco detalhado, passando as informações necessárias. Os personagens se destacam muito em relação ao cenário. Já os personagens, sempre são detalhados em cabelos, roupas e adereços. Cada um tem seu próprio visual. O Israel faz bom uso das retículas, agregando em contrastes.

O volume 1 possui cinco capítulos. Os dois primeiros oferecem alguma ação, os outros três, os quais o mangaká chama erroneamente de “capítulos de transição”, buscam apresentar protagonistas, o mundo e suas possibilidades. Sendo assim, o correto seria dizer que ainda estamos num volume introdutório. Teríamos transição se estivéssemos perto de uma segunda saga ou arco narrativo, o que não se configura.

Como de praxe em muitos mangás shonen, a idade dos personagens parece destoar do físico deles, sobre o Ken e o Chiru, você até entende, mas o Satoshi só tem oito anos, parece bem mais. A personalidade do Satoshi também parece muito adulta para um per-sonagem de oito anos, achei pouco factível. Já no que diz respeito a Hana, eu gostei do tratamento dispensado. Inclusive, ela tem um ótimo potencial narrativo.

O autor tem boas referências no CLAMP e Hiroyuki Takei, não só em desenho, mas também no roteiro. Optou por conduzir a trama inicial através de conflitos internos e interpessoais. Uma ação minimalista. O artista empregou muito bem a personalidade de cada um em suas expressões faciais, gestos e modo de falar. A obra possui diversas críti-cas sociais impregnadas, basta uma leitura cuidadosa e você a verá.

Entretanto, minha crítica é que depois do capítulo 2, apesar de já termos um con-flito anunciado, não senti uma sensação de perigo tão iminente. Parecia que o núcleo principal fazia turismo. É uma série que vai investir em mistério e aventura, conflitos psicológicos e de personalidade, mas esperava que as situações dos capítulos 1 e 2 ofere-cessem um pouco mais de desconforto aos protagonistas no restante do volume.

O Israel Guedes fez um ótimo mangá. Se passa totalmente num universo ficcional alternativo, muito semelhante ao atual Japão, talvez para receber uma melhor aceitação do público. Bem poderia acontecer em qualquer lugar através de sua dinâmica e mitolo-gia. Muita coisa a ser abordada. O autor em experiência em desenhar e narrar, é profes-sor na escola Japan Sunset, possui um canal no YouTube chamado Canal do Izu.

Ele é bem crítico de obras japonesas e faz um estudo de desenho e narrativa deles, mas também é autocrítico e otimista, duas qualidades que admiro muito em qualquer artista. O mangá possui mais de 180 págs., orelhas, galeria de fanarts, making of do de-senvolvimento. Veio com marca página exclusivo. Abaixo fica os links da obra e para conferir os trabalhos do autor:

http://estudioarmon.iluria.com/pd-64139a-t-hunters-vol-01.html?ct=&p=1&s=1

Intagram.com/estudioarmon

Facebook.com/estudioarmon

Perfis do autor Isreal Guedes:

Facebook: T-Hunters

Instagram: thuntersmanga

Twitter: thunters_manga

Canal: https://www.youtube.com/channel/UCSklMvCg9mfvJYN3XGWspZA/featured

Caliel Alves
Enviado por Caliel Alves em 25/08/2020
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