Resenha do livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex
Obra: Holocausto Brasileiro
Autora: Daniela Arbex
1ª Publicação: 2013
Editora: Geração Editorial
Holocausto brasileiro é um livro-reportagem que relata histórias reais do genocídio de 60 mil pessoas no maior hospício do Brasil. A autora tem como objetivo trazer a tona essa parte da nossa história através de relatos de internos, médicos e trabalhadores do Colônia para que a conheçamos e não deixemos que histórias como essa se repita.
O livro é dividido em 14 capítulos com o total de 255 páginas e dessas, fotografias dos personagens e do Colônia no século XIX.
O “holocausto brasileiro” ocorreu no século XIX início da psiquiatria no Brasil quando foi criada em Minas Gerais o maior hospício do Brasil, o Colônia, localizado na cidade de Barbacena. Seus internos eram formados por mulheres, homens e crianças que chegavam no Colônia vindos de todos os lugares do país e por diversos motivos, entre eles por serem epiléticos, deficientes físicos e mentais, mulheres ditas insubordinadas ao marido, crianças tímidas, pessoas consideradas sem família. Ao chegarem ao Colônia suas roupas eram tiradas, tomavam um banho coletivo gelado, os homens tinham o cabelo raspado, ganhava-se uma única roupa. O tratamento do Colônia a seus pacientes se assemelhava aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. No Colônia as pessoas eram tratadas com desumanização, a água não era limpa, chegavam a beber água do esgoto que ficava exposto no pátio, a comida era péssima, os internos sentiam muito frio a noite devido a sua roupa que não era adequada levando em conta que a cidade era muito fria. Por isso, muitos internos chegaram a morrer de frio. Os corpos dos internos que morriam eram vendidos para faculdades de medicina como indigentes e quando não, eram decompostos em ácido no pátio do Colônia no meio dos outros internos e então as ossadas eram comercializadas. Como o número de internos aumentava descontroladamente suas camas foram sendo trocadas por capim para comportar um número maior de internos. Havia apenas um psiquiatra para atender um número considerável de pacientes. Não havia um tratamento para ressocialização e a grande maioria das pessoas que chegavam no Colônia morriam. Os internos sofriam no geral com eletrochoques e a única medicação que havia eram duas: Amplictil e Diasepam normalmente ministrada pelo vigia do Colônia que não tinha qualquer capacitação. É dentro desse cenário que os personagens da obra sobreviveram por muitos anos até que alguns médicos e jornalistas decidiram denunciar, através de reportagens publicadas nos jornais, para as autoridades competentes e para população a forma desumana que as pessoas que moravam no Colônia viviam. A partir dessas denúncias é que se começaram a discutir o fim do Colônia e por conseguinte dos hospícios e o início de uma psiquiatria humanizada.
Daniela Arbex autora de Holocausto Brasileiro é uma jornalista brasileira dedicada à defesa dos direitos humanos. Formada em comunicação Social, iniciou a carreira no jornal Tribuna de Minas, do qual foi repórter especial por mais de duas décadas. A autora conseguiu reconhecimento por seu trabalho de repórter investigativa.
Holocausto brasileiro foi escolhido como finalista do Prêmio Jabuti em sua 56ª edição, 2014, e depois, em outubro do mesmo ano classificado em segundo lugar da Câmara Brasileira do Livro, na categoria reportagem. Outro livro da autora que foi vencedor do prêmio Jabuti ao abordar a ditadura de uma forma única é o Cova 312 . Em 2018, lançou mais um livro com o título Todo dia a mesma noite, que narra a história não contada da Boate Kiss. A publicação está na segunda edição. Em 2020, Daniela publica sua primeira biografia: Os dois mundos de Isabel, que narra a história de coragem de uma menina que nasceu no sertão mineiro, em 1924, e aos 9 anos via e ouvia coisas que ninguém compreendia. Enfim, Daniela Arbex é uma das jornalistas mais premiadas de sua geração, pois tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três Prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e do Prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009).