Leandro Karnal: Todos Contra Todos - O ódio nosso de cada dia
Leandro Karnal nasceu em 1 de fevereiro de 1963 em São Leopoldo/RS, e além de escritor é palestrante e professor. Graduou-se em História, tem Doutorado e também possui pós-doutorados pela UNAM do México e pelo CNRS de Paris. Portanto, a sua formação cruza História Cultural, Antropologia e Filosofia.
Foi por meio do livro intitulado Todos Contra Todos - O ódio nosso de cada dia, que tive meu primeiro contato literário com Leandro Karnal (eu já o conhecia de Youtube e programas de TV), e confesso que fiquei extremamente apaixonada. Cada palavra, linha, parágrafo, desenha um cenário que transmite o quanto ele conhece e sabe, de forma magistral, repassar todo o conteúdo proposto.
O referido livro é o tipo que deveria ser de obrigação escolar e social, se fosse possível. Ele não traz um ponto, mas uma amalgama de correlatos históricos, contemporâneos e atemporais. Situações que ainda discutimos em pleno século XXI. Temas que deveriam ser apenas para alertas, como precaução para que houvesse repetição futura, mas não para se informar do óbvio. O óbvio que ainda evitamos enxergar.
“Quanto maior o medo, maior o racismo. Quanto maior a ignorância, maior o racismo e a violência. Quanto maior a insegurança pessoal, maior o ódio. É uma maneira de eu responder de forma odiosa à incapacidade que tenho de achar minha posição no mundo. Nem todo ataque decorre da inveja do outro, mas todo ataque é fruto do seu medo.”.
O Doutor Karnal desmonta toda a mística da suposta pacíficidade de um Brasil visto também, como amável, da terra idílica e sem confrontos. Em contexto histórico, enlaçado às situações hodiernas, aborda todas as mazelas da faceta que sempre tentamos esconder: violência, preconceito, racismo e de todo o ódio espumado por trás de telas de computadores e celulares. Sem coragem de assumir as misérias comportamentais (pois, poderíamos, ao reconhecer, ter o intuito de buscar melhorar), insistimos na teoria de que somos um povo alegre e acolhedor. No entanto, “as placas geológicas estáveis talvez sejam a única coisa realmente tranquila no Brasil.”.
E, infelizmente, essa impressão de país exemplar não é a realidade.
“No caso do preconceito contra as mulheres, ele nasce de uma necessidade de afirmar o papel psicológico do homem, de um falocentrismo, de uma misoginia, que precisa excluir a mulher da autoestima. Há uma demanda pela mão de obra feminina submissa, mas há uma questão cultural forte e estruturada.
O preconceito contra a mulher, a misoginia, é sólido e universal. É o preconceito mais antigo, estruturado e danoso de todos. E é possível que outros preconceitos históricos, como a homofobia, sejam filhos da misoginia.”.
O livro tem uma narrativa direta e extremamente envolvente, com que faz você não querer parar de ler. Assim, a leitura acaba sendo muito rápida. Mas aposto que ficará com água na boca para ler mais, assim como eu fiquei. Quero ler mais livros de Leandro Karnal. Sem dúvidas!
“O ódio é um sintoma fabuloso para falar dos meus recalques, das minhas dores, meus medos e anseios. Ele é um dos espelhos mais poderosos para eu olhar meu próprio rosto. O que me perturba e faz odiar tem ali um segredo fundamental que preciso descobrir. O que me agride distrai de mim mesmo. O que me perturba me aproxima de mim mesmo.
O ódio, além de ser um elemento de conhecimento, convida que eu transforme aquele grão de areia em pérola. Que eu transforme aquilo que me incomoda num ponto de crescimento. E aí o ódio tem uma função boa: ele revela minha fraqueza. E, se eu desejo melhorar, a primeira missão é encarar a medusa. Se não, o ódio vai me dominar.”.
O livro é tão interessante que eu quase grifei ele por inteiro. E, portanto, fica o convite para a leitura dessa fantástica obra e, também, para reflexão.