Ian McEwan: A Balada de Adam Henry
O livro tem uma narrativa despretensiosa que, ao longo da leitura, vai pretendendo, ao ponto de, inevitavelmente, não querermos pausar. Ademais, A balada de Adam Henry traz uma história com laços simples, no entanto que se tornam complexos com o desenrolar dos acontecimentos.
A figura central do enredo é a bem-sucedida juíza Fiona Maye que atua na área do Direito de Família. Ela é referenciada como uma pessoa inteligência e também famosa por cuidar de situações emblemáticas, como o caso dos gêmeos. Na vida pessoal, entretanto, Fiona vive uma crise no casamento com o marido Jack. No auge dos conflitos, ela precisa decidir o caso de um garoto que é Testemunha de Jeová, acometido por leucemia e que precisa de transfusão de sangue para sobreviver. Mas Adam Henry está decidido abrir mão de sua vida para morrer como mártir por sua religião. Dessa forma, para compreender todo o envolto, a Juíza se aproxima do garoto, fazendo com que surja uma relação tênue de admiração: "(...) que só pessoas de mente aberta, e não o sobrenatural: podiam dar um sentido para a vida".
Surgem questionamentos e descobertas por alguém que apenas conhecia uma ideologia e que se depara com outro mundo, o qual indaga suas crenças. Mas, sobretudo, o livro não apresenta apenas o confronto da vida pessoal versus a profissional, mas o da ciência versus a religião e os seus limites.
E por fim, é fácil observar um desfecho final proveniente de uma construção lírica, bem alinhavada e inteligente, que se encerra deixando reflexões, evidenciando, portanto, a capacidade incrível desse escritor em apresentar ideias e de externar tudo isso por meio de um romance muito bem orquestrado.